como sobreviver submerso.

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009
Thatcher, catalisadores e «econogia»
Agora (um nadinha) mais a sério. Nas décadas de setenta e oitenta do século XX (há muito, muito tempo, portanto) a primeira preocupação ambiental estava ligada aos efeitos de acidentes em centrais nucleares. A segunda era a chuva ácida. Curta lição de química: compostos de enxofre e de azoto que não deviam estar na atmosfera combinam-se com oxigénio e vapor de água (que felizmente estão) e os resultados incluem ácido sulfúrico e ácido nítrico que atingem a superfície quando chove. Durante décadas, as florestas e os lagos do Norte da Europa sofreram danos severos, ao ponto de em alguns lagos dos países nórdicos ter deixado de existir vida animal. A pergunta óbvia: o que produz os compostos de enxofre e de azoto? A resposta, tão inovadora quanto um remake de um remake de Hollywood realizado por um tarefeiro de quarta qualidade: a queima de combustíveis fósseis. Como se procurou resolver o problema? Entre outras medidas, tentando produzir menos energia eléctrica a partir do carvão e do petróleo e mais a partir do gás e – a ironia – da energia nuclear, e instalando na exaustão de vários processos, incluindo no tubo de escape de todos os automóveis, um catalisador. Nos carros, o catalisador converte os produtos nocivos que o motor produz (óxidos de azoto e monóxido de carbono) em azoto, oxigénio e num composto que, até ao início da década de noventa, pouca gente via como muito pernicioso (afinal, nós atiramos mais de uma dúzia de baforadas dele para a atmosfera em cada minuto*), chamado – adivinharam – dióxido de carbono. A instalação do catalisador, solução apresentada como quase miraculosa, tornou-se ponto de honra para ambientalistas e maioria dos governos. Depois de um período de resistência por parte dos construtores de automóveis (que temiam o aumento dos custos e a diminuição das performances e da fiabilidade dos carros), das petrolíferas (que produziam gasolina com chumbo que destruía os catalisadores) e de alguns governos (com o britânico à cabeça; Thatcher, sempre irritante, assegurava que o catalisador não era a solução porque – imagine-se – produzia dióxido de carbono e que o que se devia fazer era desenvolver a tecnologia de lean burning** e começar activamente a procurar alternativas para o combustível fóssil), o problema pareceu ficar resolvido. As florestas e os lagos começaram a recuperar e os carros não tardaram a ficar ainda mais potentes e fiáveis. Só que o dióxido de carbono revelou-se mesmo um problema e até um problema ligeiramente grave. Dizem muitos cientistas que está na origem da principal preocupação ambiental da última década: o aquecimento global (embora alguns pareçam ter dúvidas de que o planeta esteja mesmo a aquecer, pelo menos quando trocam mensagens de correio electrónico entre si). E lá chegamos a Copenhaga e às medidas para diminuir as emissões de dióxido de carbono. Por quê relembrar tudo isto? Porque, se Thatcher não tinha toda a razão (era preciso fazer algo imediatamente), Thatcher (e relembre-se que a formação da senhora é em Química) também tinha alguma razão: os catalisadores não foram a panaceia para todos os problemas ambientais, tendo até ajudado a agravar alguns, e teria sido importante um maior esforço no estudo de soluções alternativas aos combustíveis fósseis. Por todas as razões, não só técnicas mas também económicas e políticas (que Thatcher também entendia perfeitamente). Ou, se preferirem, refiro-o porque convém salientar que não há soluções perfeitas e que, por entre todas as que são propaladas por políticos, ecologistas e meios de comunicação, algumas têm problemas sérios, para o ambiente e – talvez não menos importante, nos tempos que correm – para a economia. Apostar na tecnologia errada pode ter custos elevadíssimos. Imagine-se que as dificuldades técnicas relacionados com a utilização de hidrogénio como combustível nos automóveis – provavelmente a solução com menores consequências ambientais – são resolvidas; para que servirá nessa altura a rede de abastecimento de carros eléctricos – utilizadores de baterias pouco amigas do ambiente e cuja disseminação aumentará a necessidade de produção de energia eléctrica, parte da qual será certamente ainda obtida a partir de combustíveis fósseis – que vai ser instalada? Por outro lado, há já erros claros. Apoiar fiscalmente os automóveis híbridos é um deles: um Toyota Prius tem direito a benefícios fiscais mas emite sensivelmente a mesma quantidade de dióxido de carbono que um Renault Mégane 1.5 dCi*** e ainda dá origem a outros problemas ambientais, devido ao número de baterias que utiliza. Sendo importante não perder tempo, é fulcral ter cuidado. As próximas décadas serão cruciais para o ambiente mas também para a economia de muitos países. Os que fizerem as apostas certas podem lucrar imenso. Os que cometerem erros graves pagarão um preço elevado. Num país como Portugal, com uma crise estrutural grave que não passará rapidamente, um governo que parece funcionar mais por impulsos e visões do que por análises racionais (lembram-se dos discursos entusiasmados do Primeiro-Ministro sobre os biocombustíveis há somente três ou quatro anos?), onde o escrutínio da acção do governo é fraco, a iniciativa privada é frágil e/porque está quase toda dependente das vontades do governo, os riscos são ainda maiores. Em resumo: a economia e a ecologia estão mais ligadas do que nunca (já alguém sugeriu o termo «econogia»?) mas ainda não é claro que sejam amigas.
 
* Razão por que, na lógica do poluidor-pagador, todos os praticantes de desporto deviam pagar uma taxa ecológica.
** Ou combustão baseada numa «mistura pobre», em que a percentagem de combustível é muito menor do que a usada nos motores que temos instalados nos veículos que conduzimos.
*** Ou equivalente.
 
(Foto obtida aqui.)


publicado por José António Abreu às 21:10
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A propósito de Copenhaga: a minha contribuição para a preservação ambiental
Fazer desporto, eu? Nunca. Sou sedentário por opção ecológica. Limito tanto quanto posso as minhas emissões de dióxido de carbono.


publicado por José António Abreu às 13:11
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Segunda-feira, 17 de Agosto de 2009
Imagens recolhidas pelas ruas: 13

O Festival de Woodstock foi há quarenta anos. Confesso que, por mais que aprecie rock e algumas figuras que por lá passaram, o festival nunca me disse muito (na altura, indo a caminho do primeiro ano de vida, não me disse mesmo nada). A propósito dele e do espírito hippie, Carlos Barbosa de Oliveira menciona no Delito de Opinião as comunidades de Christiania, em Copenhaga, e El Bolsón, na Patagónia, e escreve mais extensamente sobre ambas aqui. Os posts levaram-me a pescar esta foto no disco rígido. Foi tirada em Abril de 2007 junto a uma das entradas de Christiania.



publicado por José António Abreu às 19:11
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