como sobreviver submerso.
Domingo, 29 de Novembro de 2009
Bananas e um programa de TV quase clandestino
Há álbuns míticos com bananas na capa. O meu preferido (e, sendo a minha originalidade inatacável, de milhões de outras pessoas) é indubitavelmente The Velvet Underground and Nico. Mas Between 10th and 11th, dos Charlatans, merece menção honrosa e audições regulares. As bananas estão demasiado maduras para o meu gosto mas a música, mesmo com quase vinte anos, não. Os Charlatans ainda existem, claro, e até continuam a produzir canções muito razoáveis. Mas, na minha opinião e na de qualquer outra pessoa com aquilo que se pode chamar de patamar mínimo de bom gosto (sente-se abrangido? Excelente), este é o grande álbum deles. Vi pela primeira vez o vídeo de Weirdo no mítico programa televisivo Pop-Off que, ainda universitário, acompanhava num televisor com um ecrã pouco maior do que o que hoje se pode encontrar num iPhone. E a preto e branco (é verdade, minhas crianças, a cor já existia há cerca de uma dezena de anos mas ninguém avisara aquele televisor). Pop-Off era um programa estranho mas também estranhamente entusiasmante numa época em que a maioria do que passava na televisão era bastante cinzento (ou se calhar fiquei com essa ideia por causa do televisor). Pela música que passava, pelos vídeos que produzia (tão low-budget mas tão esforçados que eram verdadeiras obras-primas de arte kitsch), pela Sofia Morais (então totalmente adorável, mais tarde tornada ligeiramente irritante – ou talvez mais do que ligeiramente – pelas participações como jurada em programas de descoberta de talentos), pelas entrevistas, pela vontade de provocar e de quebrar regras. (Quem desejar mais informações sobre o programa pode ir aqui. O artigo é óptimo e inclui coisas tão deliciosamente estapafúrdias como uma jornalista do Diário de Notícias ter pensado, ao assistir por acaso à emissão número 100, que aquilo era uma estação de televisão pirata.) Escrevia eu então (as divagações, garanto-vos, são uma coisa divertida para quem escreve, apesar de serem com frequência – sei-o perfeitamente – uma chatice para quem lê) que vi este vídeo pela primeira vez no Pop-Off. Terá sido numa noite de Terça para Quarta, à uma e tal da manhã, hora a que as minhas capacidades cognitivas tendiam a encontrar-se longe da melhor forma (*)(**) mas essa circunstância só parecia potenciar o efeito do conteúdo do programa. E por que é que ele me ficou na memória? Em primeiro lugar porque, graças a qualquer razão misteriosa, passava estranhamente bem no pequeno ecrã a preto e branco que, alimentado de sinal por uma antena telescópica já bastante torcida, tremeluzia como se sofresse de uma variante electrónica da doença de Parkinson. Depois porque a primeira frase da canção é excelente. É uma pequena frase de que me lembro muitas vezes – a última foi há cerca de uma hora e dezoito minutos e deu origem a este relambório (gostaria de registar que é a primeira vez que uso o termo «relambório» neste blogue, facto que, tendo já debitado banalidades ao longo de quatrocentos e tal posts, só posso classificar como surpreendente). Não sei por que me lembrei hoje dela mas sei que me costuma vir à mente quando vejo pessoas incompreensivelmente felizes (felizmente cada vez mais raras). Aqui fica então o vídeo, com uma dedicatória à Sofia Morais dos tempos em que era gira e divertida, e outra ao pequeno televisor que um «amigo» a quem o emprestei fez o favor de emprestar a uma namorada de quem se separou pouco amigavelmente e com quem nunca mais quis falar, nem para lhe pedir o aparelho de volta.
Ah, a frase? Most of the time you are happy – you’re a weirdo.
(*) Sou um rapaz do campo, habituado a deitar-me cedo.
(**) Como – e deve ser tão óbvio – se encontram neste preciso momento.