Ponto um: fica na Bélgica. Ponto dois: a minha vontade de visitar Bruges pode ser totalmente atribuída ao filme Em Bruges. Admitir isto deve parecer um bocado ridículo mas as coisas são assim: com frequência, as nossas motivações são ridículas, pelo menos para os outros (na nossa cabeça fazem sentido mesmo quando não o conseguimos passar a escrito). De qualquer dos modos, a minha vontade de visitar Bruges deve-se ao filme. Antes de o ver, a cidade não era sequer um blip no meu radar. Torna-se evidente que, numa circunstância destas, o risco de desilusão é enorme. Afinal, as coisas nem sempre são como no cinema. E, assim de repente, na Bélgica pouco mais há que me interesse. (A não ser as tabletes de chocolate Guylian com 56% de cacau e avelãs inteiras mas isso arranjo por cá.)
A Bélgica é um país curioso. É grande, bilingue, está no centro da Europa, e, no entanto, surge como irrelevante. E não é de agora. Pensem lá em quantos episódios significativos da história belga conhecem. (No improvável caso de algum belga, ou descendente de belgas, estar a ler isto, é favor abster-se.) Existem também muito poucos produtos ou pessoas que se associem à Bélgica. Como fã de ténis, não posso passar por cima (é uma maneira de dizer…) da Kim Clijsters e da Justine Henin. A primeira porque tinha (vamos ver se ainda tem, quando regressar este Verão) um estilo espectacular e cheio de garra, a segunda porque tinha um estilo perfeito e cheio de garra. Como fã de automobilismo devo também mencionar o circuito de Spa-Francorchamps, um dos mais espectaculares do mundo. Ouço dizer que os benfiquistas ainda relembram com emoção um guarda-redes qualquer mas as emoções dos benfiquistas dizem-me pouco (excepto quando estão tristes na sequência de derrotas com o Sporting) e não me fazem ter vontade de ir à Bélgica. Os franceses contam anedotas sobre os belgas (pergunta: o que se faz se um belga nos atirar uma granada? resposta: tira-se a cavilha e devolve-se a granada), mas parece-me que isso diz mais sobre os franceses que sobre os belgas. E, como sucede quando o resto de Portugal conta piadas de alentejanos, até pode indiciar alguma ternura. (OK, no caso dos Franceses provavelmente não.)
Depois do filme vim à net pesquisar um pouco mas, para ser franco, nada de muito relevante surgiu. A história da cidade é interessante mas não mais que a de muitas outras cidades pela Europa fora. (Foi um importante porto e centro comercial na Idade Média mas entrou em declínio quando perdeu essa posição para Antuérpia por volta do século XV, na sequência do assoreamento do canal de ligação ao oceano.) A zona histórica é belíssima e património da humanidade mas isso também a do Porto. (A de Bruges é medieval mas não será difícil que se encontre em melhor estado de conservação…) Parece que, por ter canais, é conhecida como a “Veneza do Norte” mas isso também uma mão-cheia de outras cidades do norte da Europa. Assim sendo, a vontade de lá ir continua a poder ser totalmente atribuída ao filme. O que pode realmente parecer um bocado ridículo mas é a única explicação sincera que, mesmo depois deste texto todo, continuo a conseguir arranjar.
(Apercebo-me agora que, para quem se deu ao trabalho de o ler, mais que um incentivo para visitar Bruges, este post poderá servir de incentivo para ver Em Bruges. Se assim for, já fico bastante satisfeito.)
É sempre recomendável ler as letras pequeninas: não sei se este clip de vídeo incitará alguém a ver o filme ou a visitar Bruges mas sei que pessoas sensíveis a linguagem obscena devem abster-se de clicar no botão Play.