como sobreviver submerso.
Vital e as declarações (escolher adjectivo no texto).
As repetidas declarações de Vital Moreira sobre a necessidade de Manuela Ferreira Leite tomar uma posição sobre o caso BPN são – inspirar fundo – demagógicas, populistas, ridículas, impróprias, patetas, vergonhosas, descaradas, estrambólicas, irritantes, indecorosas, trogloditas, presunçosas, canalhas, soezes, escandalosas, vis, torpes e descabidas. Eu sei que alguns dos termos são sinónimos mas espero que a apresentação sequencial reforce a ideia que pretendo passar. Incluí indignas?
O caso BPN é uma vergonha para os directamente implicados e para o Banco de Portugal (apesar de fortíssima concorrência, grande candidato ao prémio de instituição nacional mais incompetente nos últimos anos). O tempo que Dias Loureiro demorou a sair do Conselho de Estado é lamentável, em especial pela posição em que deixou Cavaco. A promiscuidade entre a política e os grandes grupos económicos, especialmente mas não apenas os do sector financeiro, é um dado adquirido. Mas PSD e PS não são diferentes nesta área. Até prova em contrário, o PSD é alheio ao facto de alguns seus militantes (e ex-governantes) estarem envolvidos no escândalo BPN (uma instituição privada até à recente nacionalização). Pretender o contrário é assumir que quaisquer eventuais problemas que ex-governantes do PS venham a ter nas empresas onde se encontram (e são tantos…) devem reflectir-se no PS. E que, nos tempos do processo Casa Pia, o partido devia explicações pelas suspeitas que recaíam sobre alguns dos seus membros. Ou, como lembrou ontem Tiago Moreira Ramalho no Corta-Fitas, o partido tem que explicar a participação de Jorge Coelho no caso da Valor Alternativo, onde, aliás, era sócio de Dias Loureiro. Ficamos a aguardar que Vital exija esclarecimentos a Sócrates.
Contudo, o ponto mais grave não é o desvario de Vital: é ele já não estar em desvario. O facto de ter insistido no assunto, mesmo após a demarcação de Maria de Belém (honra lhe seja feita) e do desconforto de outros socialistas, indica aprovação superior. O PS – e o PS é Sócrates – entende que esta é uma linha de conduta adequada. Para um homem com cadeiras de uma licenciatura feitas por fax, envolvido num caso grave de eventual corrupção enquanto no exercício de um cargo governativo (e não estou a dizer que ele é culpado; de momento, é-o tanto quanto Dias Loureiro), conhecido por reagir mal a críticas e por tentar controlar a comunicação social (através de leis da Assembleia da República, ataques directos a noticiários, acção do inefável Santos Silva ou da inenarrável ERC, etc.), queixando-se constantemente de ser alvo de campanhas negras, convenhamos que é uma linha de conduta que no mínimo revela alguém que não se enxerga.
Permitam-me uma curta e previsível digressão. Não sou fã de Santana Lopes (entendi perfeitamente a decisão de Jorge Sampaio de dissolver a Assembleia da República em 2004) mas imagine-se o alvoroço em que este país estaria se ele fosse primeiro-ministro e estivesse envolvido em tantos casos dúbios como está Sócrates. Imagine-se o alvoroço se um governo dele fizesse tantos ataques à comunicação social e tentasse aprovar leis para a manietar. (Quando no poder, o PSD também gosta de a controlar – que partido não gosta? – mas, e isto é uma espécie de elogio, é muito mais trapalhão nas tentativas que faz.) Alguém acredita que tanta gente se apressaria a enunciar riscos de colapso político e financeiro em caso de queda do governo? Às vezes parece que querem fazer-nos acreditar que Sócrates é insubstituível. Não é. Pretendê-lo só pode ser táctica política. Acreditar, um atavismo Sebastiânico. Igualmente preocupante é a hipótese em que o PS parece crer de que as tiradas de Vital podem transferir intenções de voto do PSD para o PS. Pelo que revelam do PS e, a ser verdade, dos eleitores.
Enfim. Aguardemos a próxima tirada do emérito, insigne e distinto professor de Direito. Felizmente já não temos que o aturar durante muito mais tempo.
Tabelinha reveladora.
No Blasfémias. Ou como Sócrates é perseguido e Dias Loureiro o vilão do século. (Para que não fiquem dúvidas, acho muito bem que este saia finalmente do Conselho de Estado. Mas e então Sócrates? Ou, vá lá, Lopes da Mota?)