Não obstante existir algum endividamento anterior, os problemas do Grupo Espírito Santo decorreram exclusivamente da crise financeira internacional de 2008, tendo a gestão tomado sempre as medidas mais adequadas e dispondo de uma solução que, indo sem dúvida resolvê-los, apenas má-fé alheia inviabilizou. Honestamente, custa-me perceber como podem os socialistas não empatizar com uma explicação destas.
Ricardo Salgado usou a táctica do costume: nada aconteceu em resultado das suas acções e tudo se teria resolvido se outras entidades (Banco de Portugal e governo) não lhe tivessem tirado o tapete (o primeiro exigindo a constituição de provisões para as «imparidades» e a saída da família das posições de controlo; o segundo recusando emprestar-lhe uns milhares de milhões de euros). Lembrou-me outros casos. O BPN. O BPP. O BCP. A PT. O PEC IV (ou o processo que a ele conduziu). E, na verdade, também o comportamento de muita gente anónima após acidentes de automóvel mas não vale a pena misturar universos; fiquemos pela «elite» do país. Caso após caso, nunca ninguém assume responsabilidades pela trampa produzida porque, obviamente, não aceita tê-la produzido. Caso após caso, tudo sucedeu em resultado de uma alteração abrupta de circunstâncias («o mundo mudou muito nos últimos quinze dias») e/ou de actos ilícitos de uma personagem menor (no caso do GES, o contabilista da parte não financeira). Mais importante: a solução existia, estava mesmo ali, preparadinha, reluzente, como um presente de Natal cuja abertura despoleta a exclamação sincera: «Uau, era mesmo isto!», e só não foi implementada porque alguém, por incompetência ou interesse, não deixou.
Enfim. Ricardo Salgado tem pelo menos uma vantagem sobre a maioria dos outros banqueiros envolvidos em casos de gestão ruinosa e em particular sobre Sócrates: parece menos arrogante e é incomensuravelmente menos histriónico. Para quem dispensa exibições alarves de testosterona (há um número significativo de criaturas a quem elas causam afogueamento e pernas bambas), sempre vale alguma coisa. De resto, a trampa é a mesma.
Haveria certamente muito a dizer mas, apesar de proletário, estou pouco informado sobre a sintaxe sindicalista (as centrais disponibilizarão cursos co-financiados?) e tenho de admitir que só entendo o terceiro ponto até à primeira vírgula.
(Clicando na imagem e seleccionando "outros tamanhos", pode aceder-se a uma versão maior.)
Wellington Nazaré, o assaltante do balcão do BES de Campolide, condenado na semana passada a 11 anos de prisão (estupidez dele: se tivesse pegado fogo a um refém provavelmente teria apanhado apenas oito), declarou ao i que continua a ser cliente do BES. Significa isto que, tivesse o assalto sido bem sucedido, o BES accionaria o seguro que certamente tem e Wellington e o colega voltariam a lá depositar o dinheiro. Ricardo Salgado pode até ser um dos melhores gestores nacionais mas neste caso revelou falta de visão. Pelo menos ficou a saber que mesmo os clientes tratados a tiro estão satisfeitos com o serviço do banco.
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