como sobreviver submerso.

Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012
Não estraguemos o ambiente; mantenhamos as aparências
Basta um contacto moderado com empresas do sector industrial para se perceber que os custos associados à protecção do ambiente são múltiplos e, quando somados, tudo menos leves. Acondicionamento e sinalização de produtos químicos, avaliação de riscos, separação e recolha de resíduos, tratamento de emissões, elaboração de planos de contingência, licenciamentos, certificações, taxas, seguros, pessoal técnico, consultores, formação – dinheiro, dinheiro, dinheiro. Já para não falar nas demoras causadas pela burocracia quando se pretende aprovar um projecto de investimento – ainda mais dinheiro. Na realidade, está em causa tanto dinheiro, pago pelas empresas industriais a entidades públicas e privadas, que os interesses para não se encontrar um equilíbrio mais sensato entre o nível de protecção e os custos que lhe estão associados são fortíssimos – e têm do seu lado o poder do politicamente correcto: a gestão ambiental – como a da qualidade e a da segurança – é um negócio (friso «negócio») contra o qual não se pode estar, independentemente do nível de exagero em que o legislador, assessorado por académicos sem noção da realidade e por «especialistas» que ganham tanto melhor a vida quanto mais draconianas forem as medidas preconizadas, resolva cair. Nas pequenas empresas, isto desemboca com frequência no incumprimento da lei (com efeitos mais nefastos para o ambiente do que os que se obteriam com uma legislação um tudo-nada menos exigente e/ou coimas que só prejudicam a situação financeira das empresas em causa) ou no encerramento (por acumulação de custos em época de margens quase nulas). Nas empresas maiores, especialmente quando pertencentes a grupos internacionais, representa um elemento adicional a favor da deslocalização.

 

O mais deprimente é que por vezes toda esta sanha a favor do ambiente nem sequer permite obter melhor qualidade ambiental. E não apenas devido às infracções referidas acima. Num artigo sobre opções energéticas incluído na revista Prospect de Outubro passado surgia um dado curioso: apesar de as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera terem descido na maior parte dos países europeus ao longo do último par de décadas, em média cada cidadão é hoje responsável por um teor de emissões mais elevado. A aparente contradição explica-se facilmente: ao mesmo tempo que o consumo aumentou, os produtos consumidos passaram a ser fabricados na China, na Tailândia, no Bangladesh ou num dos muitos outros países onde os requisitos ambientais estão longe de constituir prioridade. Isto é: para além das empresas, deslocalizaram-se – e agravaram-se – as emissões poluentes.

 

Mas a indústria em torno das questões ambientais também pode constituir uma ajuda ao crescimento, certo? Certo. E, por isso, pouca gente hoje defenderá que se corte totalmente o investimento nesta área ou se eliminem todos os requisitos legais de gestão ambiental. Mas torna-se fundamental encontrar um equilíbrio que, a curto prazo, não aumente excessivamente os custos suportados pelas empresas. (E pelos particulares, que basta olhar para a factura da electricidade – em especial para a composição de custos – para entender as consequências de um avanço demasiado rápido.) No tal artigo da Prospect defendia-se um avanço prudente nas renováveis e o aproveitamento das enormes reservas entretanto descobertas de combustíveis que, sendo embora de origem fóssil, são razoavelmente limpos (pelo menos quando comparados com o carvão) e permitem a obtenção de energia mais barata do que a produzida através daquelas – o gás de xisto, por exemplo, que já está a revolucionar o sector energético nos Estados Unidos. E avisava-se: se a Europa insistir em passar do carvão e do nuclear directamente para as renováveis, apenas irá agravar o seu défice de competitividade em relação a outros blocos.

 

Por quê este texto agora? Porque na passada segunda-feira o Ministro Álvaro Santos Pereira disse o óbvio (que a Europa tem de procurar um melhor equilíbrio entre protecção do ambiente e competitividade) e foi de imediato atacado pelas mentes «progressistas» e «bem-pensantes». Na TSF, por entre bonitas tiradas acerca de «economias respeitadoras dos seus cidadãos», um senhor da Quercus acusou-o de estar trinta ou quarenta anos atrasado no tempo. E Carlos Pimenta, esse símbolo de tudo aquilo a que se possa afixar o rótulo de «ambiente», terá achado – podem dizê-lo mas, por favor, não me gravem – as declarações «muito tristes». Eu diria que tristes são estas reacções de virgens ofendidas e que talvez uns quantos anos atrasado ande o senhor da Quercus. Que vogue ainda na época em que a economia europeia conseguia encaixar todas as boas intenções, por muito caras ou extravagantes que fossem, e todos os interesses escondidos por trás delas. Uma época, estou em crer que até os distraídos já notaram, bastante diferente da actual.


publicado por José António Abreu às 08:43
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Domingo, 28 de Fevereiro de 2010
Comunhão com a Natureza

«Toma alguma coisa?»

«Um café.»
«Prefere ir lá para dentro?»
«De maneira nenhuma. Gosto mais de estar ao ar livre. Aqui vê-se o mar, sente-se o vento. Adoro estar em comunhão com a Natureza»
«É que não está muito calor e o vento está forte.»
«Nada disso me incomoda.»
«Muito bem, então. Comecemos: desde quando é que a ecologia o interessa?»
«Desde que me lembro de ter consciência. Mas um dos primeiros momentos em que tive consciência foi quando era miúdo e tentei fazer uma festa a um gato.»
«Sim?»
«Foi aí que percebi que gostava de animais.»
«Ah. Estou a ver. Era o gato lá de casa?»
«Não. Era de um vizinho. Tinha um temperamento super-independente. Arranhou-me todo.»
«A sério?»
«Fiquei com três sulcos na mão direita e um na face. Ainda há poucos anos se via. Comecei a perceber nesse momento que a Natureza (os animais fazem parte dela, como é óbvio) deve ser respeitada.»
«Que idade tinha?»
«Uns três anos. Talvez quatro.»
«E pensou nisso assim, conscientemente?»
«Sempre fui precoce, sabe? Mas, para dizer a verdade, é uma ideia que se foi instalando progressivamente.»
«Não me diga: o gato arranhou-o mais vezes?»
«Com alguma gravidade, mais cinco.»
«Cinco vezes?»
«Sim. Percebi então que a Natureza, para além de ter que ser respeitada, quer ser deixada em paz.»
«É uma conclusão de grande perspicácia para uma criança.»
«Obrigado.»
«Foi o único problema que teve com animais, enquanto criança?»
«Não gosto do termo 'problemas'. Mas não. Também fui mordido sete vezes por três cães diferentes, apanhei uma doença por causa de uma picada de mosquito, fui ferrado por duas abelhas, levei duas marradas do carneiro do rebanho dos meus avôs, parti a perna direita quando um cavalo da polícia se espantou e me pisou, e a primeira vez que fui ao jardim zoológico, um macaco mordeu-me. Creio que estava com pena de que ele estivesse preso e tentei chegar-lhe. Também tentei chegar aos tigres e aos ursos mas os meus pais e a rede de protecção (detesto redes à volta dos animais) impediram-me. Ah, e tive um surto de piolhos mas isso não conta, não é?»
«Com essa consciência ecológica tão precoce, deve ter sido desagradável ter de os matar…»
«Pode ter a certeza. Fartei-me de chorar e de tentar fugir da minha mãe quando ela me queria pôr o produto na cabeça.»
«Não acha estranho, tantos acidentes?»
«Acho que foram um sinal.»
«Um sinal? Um sinal de quê?»
«Uma forma dos animais me alertarem para os seus problemas. Da Natureza me fazer prestar atenção.»
«Ahn, estou a ver. Avancemos um pouco. Foi já essa consciência que o fez tirar o curso de biologia?»
«Com certeza. Na adolescência eu já não tinha qualquer dúvida quanto à minha vocação. Mas tenho de confessar que o curso foi uma desilusão. Muito teórico. Eu queria era andar ao ar livre, em comunhão com a Natureza… Olhe para aquele cão. Que fantástico animal, não é? É um crime que provavelmente passe quase todo o dia preso num apartamento.»
«Vem para cá.»
«Os animais têm uma extraordinária capacidade de perceber em quem podem confiar.»
«Mas parece-me que…»
«…»
«…ele lhe vai urinar nas calças.»
«Bolas. Mas é natural, sabe? É a demonstração de que não me vê como uma ameaça. Se pensarmos bem no assunto, até é lisonjeiro. Repare que ele não urinou nas suas pernas…»
«Pois…»
«A sério que não me importo. A si o cheiro não o incomoda, pois não? É um odor perfeitamente natural.»
«Não, quase nem noto. Acho que o vento está a soprar deste lado.»
«Isto está-me sempre a acontecer.»
«Ah, sim?»
«É verdade. Como lhe disse, é um elogio.»
«Claro.»
«Está um vento fantástico, não está?»
«Um bocado forte demais para o meu gosto. Nestas últimas semanas tem sido terrível…»
«Ora, não diga isso. O vento é uma das mais maravilhosas formas de expressão da Natureza.»
«É uma boa maneira de ver a questão. Bom, voltemos ao ponto onde ficámos. O que fez quando acabou o curso?»
«Fiz um estágio nas Berlengas. Foi um período fantástico. Andava sempre coberto de excrementos de gaivota e fui bicado mais de uma dúzia de vezes. De uma delas quase fiquei sem o olho direito. Eram para ser três meses de estágio mas ao fim de um e meio, num dia de vento forte (olhe, um bocado como o de hoje), uma gaivota errou a trajectória, raspou-me na cabeça e eu caí num buraco e parti duas costelas e o braço esquerdo.»
«Tem a certeza de que a natureza gosta de si? Estão-lhe sempre a acontecer coisas desagradáveis…»
«Não brinque. Já lhe expliquei a lógica por trás de tudo o que acontece.»
«Claro, desculpe. Continue, por favor»
«Bom, depois de recuperar entrei para a Associação. Como sabe, temos duas vertentes: a de investigação e a de denúncia e activismo político.»
«Participou nas duas, segundo sei.»
«Todos os membros o fazem.»
«É capaz de nos contar alguns dos projectos em que esteve envolvido, em cada uma das áreas?»
«Com prazer. Nunca me esquecerei do tempo que passei em África a seguir um grupo de elefantes. Acabei por ser mandado de volta porque um deles, assustado (devíamos ter mantido uma distância maior, na verdade), carregou sobre mim e me partiu a perna esquerda. Em dois locais. Outra expedição de que me lembro bem foi uma viagem de barco às Selvagens que, infelizmente, acabou antes de lá chegarmos porque uma tempestade afundou o barco. Morreram dois colegas meus. Nunca recuperámos o corpo de um e do outro só recuperámos parte; o resto tinha sido comido por tubarões. (Eu gostava de morrer assim, sabe? Em contacto com a natureza e assegurando que a cadeia alimentar se mantém activa.) Estive também ligado a um projecto que estudou as plantas capazes de subsistir na Serra da Estrela durante o Inverno. Foi suspenso quando uma avalanche (deve lembrar-se disso; vocês noticiaram-na como a única avalanche na Serra da Estrela em não sei quantas dezenas de anos) nos apanhou. Fiquei preso e cheguei a entrar em hipotermia mas sobrevivi. Só me amputaram a ponta do nariz e andei umas semanas quase sem conseguir respirar porque um pedregulho que vinha no meio da neve me partiu seis costelas (as duas que já se tinham partido no acidente das Berlengas e mais quatro). Na Austrália acompanhámos um projecto cuja finalidade era tentar descobrir se não existirão ainda exemplares vivos do tigre-da-tasmânia. Um escorpião picou-me mas resisti bem ao veneno e só abandonei o projecto (que acabou por apenas descobrir uma nova espécie de canguru) quando um diabo-da-tasmânia (vêm sofrendo um terrível surto de tumores na boca, não sei se sabe) me mordeu. Foi ele que me levou estes dois dedos. Quer dizer, os dois dedos que antes aqui estavam…»
«Estou a ver… E no campo do activismo?»
«Participei em muitas acções de que toda a gente ainda se lembra. Protestei várias vezes contra o uso de peles. Numa delas utilizámos tinta vermelha para manchar casacos à saída dos Globos de Ouro da SIC. Levei uma bofetada da filha da mãe da Clara de Sousa e o curioso é que ela nem sequer estava com casaco de peles… Invadimos um matadouro de suínos para chamar a atenção para o modo como os humanos tratam os animais, criando-os em condições degradantes e assassinando-os de forma grotesca. (Nem deve ser preciso dizer que sou vegetariano mas preferia nem plantas ter de comer; infelizmente, somos forçados a comer alguma coisa, não é?) Voltando à invasão do matadouro: prendemos os trabalhadores numa câmara frigorífica e libertámos os porcos todos. Na confusão (eles estavam tão excitados, vendo-se em liberdade), fui atirado ao chão e alguns passaram-me por cima, partindo-me o braço direito e uma das costelas que se já tinha partido nas Berlengas e na Serra da Estrela. E, claro, manifestei-me na Dinamarca contra o aquecimento global, no pino do Inverno. Cheguei a destruir duas montras mas depois escorreguei num pedaço de gelo e cortei-me todo nos fragmentos de vidro. Houve ainda aquela vez em que...»
«Cuidado com a gaivo…»
«Ah!»
«Caramba, acertou-lhe em cheio. Deviam ter aqui um guarda-sol.»
«Não tem importância. Já lhe expliquei: estou habituado aos dejectos de gaivota. É verdade que se entranham no cabelo e o deixam empastelado. Mas acabo por nem ligar. Às vezes uso um capuz mas sinto-me a fazer batota com a Natureza.»
«E isso é que não pode ser...»
«Obviamente. Não está a ser irónico, pois não?»
«Claro que não. Desculpe. Quais são os seus planos para o futuro?»
«Continuar a lutar pelos direitos dos animais, por ecossistemas equilibrados e por políticas que assegurem a sobrevivência do planeta, claro. Sabe que, se mantivermos as políticas actuais, dentro de...»
«Sim, sim. Fizemos uma reportagem sobre isso na semana passada. Mas agora é capaz de ser mais difícil para si, não lhe parece?»
«Farei o que estiver ao meu alcance. E posso servir como símbolo da luta pelos direitos dos animais e da preservação da natureza. Como o Tom Cruise se tornou num símbolo contra a guerra do Vietname no filme Nascido a 4 de Julho. É por isso que aceitei dar a entrevista.»
«Claro. E eu agradeço-lhe que o tenha feito. Acabámos. Quer ajuda com a cadeira de rodas?»
«Não, obrigado. Já me vou habituando a ela. Está a ver como consigo manobrá-la? Não gosto dela (é um objecto artificial, de metal e plástico; horrível) mas tento integrá-la o melhor que posso na minha visão do mundo. Foi por isso que a pintei de verde.»
«Não falámos sobre o acidente que o obriga a usá-la porque já toda a gente o conhece. Foi muito noticiado.»
«Eu entendo. Vai para que lado? Para ali? Eu também.»
«Mas se quiser dizer alguma coisa sobre o assunto, esteja à vontade.»
«Digo-lhe o que digo sempre: as touradas são uma aberração que tem de acabar. Não me arrependo nada de termos invadido aquela herdade em protesto contra o destino dos touros. Que um me tenha acertado e partido a coluna é uma prova da raiva que eles próprios sentem.»
«Hum-hum. Claro. Olhe, obrigado mais uma vez. Bolas, o vento está cada vez mais forte. É melhor ter cuidado com esses degraus.»
«O quê?»

«CUIDA... Merda.»



publicado por José António Abreu às 16:12
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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009
Thatcher, catalisadores e «econogia»
Agora (um nadinha) mais a sério. Nas décadas de setenta e oitenta do século XX (há muito, muito tempo, portanto) a primeira preocupação ambiental estava ligada aos efeitos de acidentes em centrais nucleares. A segunda era a chuva ácida. Curta lição de química: compostos de enxofre e de azoto que não deviam estar na atmosfera combinam-se com oxigénio e vapor de água (que felizmente estão) e os resultados incluem ácido sulfúrico e ácido nítrico que atingem a superfície quando chove. Durante décadas, as florestas e os lagos do Norte da Europa sofreram danos severos, ao ponto de em alguns lagos dos países nórdicos ter deixado de existir vida animal. A pergunta óbvia: o que produz os compostos de enxofre e de azoto? A resposta, tão inovadora quanto um remake de um remake de Hollywood realizado por um tarefeiro de quarta qualidade: a queima de combustíveis fósseis. Como se procurou resolver o problema? Entre outras medidas, tentando produzir menos energia eléctrica a partir do carvão e do petróleo e mais a partir do gás e – a ironia – da energia nuclear, e instalando na exaustão de vários processos, incluindo no tubo de escape de todos os automóveis, um catalisador. Nos carros, o catalisador converte os produtos nocivos que o motor produz (óxidos de azoto e monóxido de carbono) em azoto, oxigénio e num composto que, até ao início da década de noventa, pouca gente via como muito pernicioso (afinal, nós atiramos mais de uma dúzia de baforadas dele para a atmosfera em cada minuto*), chamado – adivinharam – dióxido de carbono. A instalação do catalisador, solução apresentada como quase miraculosa, tornou-se ponto de honra para ambientalistas e maioria dos governos. Depois de um período de resistência por parte dos construtores de automóveis (que temiam o aumento dos custos e a diminuição das performances e da fiabilidade dos carros), das petrolíferas (que produziam gasolina com chumbo que destruía os catalisadores) e de alguns governos (com o britânico à cabeça; Thatcher, sempre irritante, assegurava que o catalisador não era a solução porque – imagine-se – produzia dióxido de carbono e que o que se devia fazer era desenvolver a tecnologia de lean burning** e começar activamente a procurar alternativas para o combustível fóssil), o problema pareceu ficar resolvido. As florestas e os lagos começaram a recuperar e os carros não tardaram a ficar ainda mais potentes e fiáveis. Só que o dióxido de carbono revelou-se mesmo um problema e até um problema ligeiramente grave. Dizem muitos cientistas que está na origem da principal preocupação ambiental da última década: o aquecimento global (embora alguns pareçam ter dúvidas de que o planeta esteja mesmo a aquecer, pelo menos quando trocam mensagens de correio electrónico entre si). E lá chegamos a Copenhaga e às medidas para diminuir as emissões de dióxido de carbono. Por quê relembrar tudo isto? Porque, se Thatcher não tinha toda a razão (era preciso fazer algo imediatamente), Thatcher (e relembre-se que a formação da senhora é em Química) também tinha alguma razão: os catalisadores não foram a panaceia para todos os problemas ambientais, tendo até ajudado a agravar alguns, e teria sido importante um maior esforço no estudo de soluções alternativas aos combustíveis fósseis. Por todas as razões, não só técnicas mas também económicas e políticas (que Thatcher também entendia perfeitamente). Ou, se preferirem, refiro-o porque convém salientar que não há soluções perfeitas e que, por entre todas as que são propaladas por políticos, ecologistas e meios de comunicação, algumas têm problemas sérios, para o ambiente e – talvez não menos importante, nos tempos que correm – para a economia. Apostar na tecnologia errada pode ter custos elevadíssimos. Imagine-se que as dificuldades técnicas relacionados com a utilização de hidrogénio como combustível nos automóveis – provavelmente a solução com menores consequências ambientais – são resolvidas; para que servirá nessa altura a rede de abastecimento de carros eléctricos – utilizadores de baterias pouco amigas do ambiente e cuja disseminação aumentará a necessidade de produção de energia eléctrica, parte da qual será certamente ainda obtida a partir de combustíveis fósseis – que vai ser instalada? Por outro lado, há já erros claros. Apoiar fiscalmente os automóveis híbridos é um deles: um Toyota Prius tem direito a benefícios fiscais mas emite sensivelmente a mesma quantidade de dióxido de carbono que um Renault Mégane 1.5 dCi*** e ainda dá origem a outros problemas ambientais, devido ao número de baterias que utiliza. Sendo importante não perder tempo, é fulcral ter cuidado. As próximas décadas serão cruciais para o ambiente mas também para a economia de muitos países. Os que fizerem as apostas certas podem lucrar imenso. Os que cometerem erros graves pagarão um preço elevado. Num país como Portugal, com uma crise estrutural grave que não passará rapidamente, um governo que parece funcionar mais por impulsos e visões do que por análises racionais (lembram-se dos discursos entusiasmados do Primeiro-Ministro sobre os biocombustíveis há somente três ou quatro anos?), onde o escrutínio da acção do governo é fraco, a iniciativa privada é frágil e/porque está quase toda dependente das vontades do governo, os riscos são ainda maiores. Em resumo: a economia e a ecologia estão mais ligadas do que nunca (já alguém sugeriu o termo «econogia»?) mas ainda não é claro que sejam amigas.
 
* Razão por que, na lógica do poluidor-pagador, todos os praticantes de desporto deviam pagar uma taxa ecológica.
** Ou combustão baseada numa «mistura pobre», em que a percentagem de combustível é muito menor do que a usada nos motores que temos instalados nos veículos que conduzimos.
*** Ou equivalente.
 
(Foto obtida aqui.)


publicado por José António Abreu às 21:10
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A propósito de Copenhaga: a minha contribuição para a preservação ambiental
Fazer desporto, eu? Nunca. Sou sedentário por opção ecológica. Limito tanto quanto posso as minhas emissões de dióxido de carbono.


publicado por José António Abreu às 13:11
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Segunda-feira, 16 de Novembro de 2009
De como as preocupações ambientais estão a ajudar a tornar o ambiente irrespirável
O Estado totalitário vai chegando com a desculpa do ambiente. Quanto é que ainda vamos ter de pagar pelo dióxido de carbono que lançamos para a atmosfera ao respirar?
 
(Cheguei à notícia através do A Origem das Espécies.)


publicado por José António Abreu às 12:52
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