Abandoned City, de Hauschka.
(E pronto. Esta série fica por aqui.)
Hozier, de Hozier.
Monuments to an Elegy, dos Smashing Pumpkins.
Em várias ocasiões, o ego de Billy Corgan pareceu atingir o tamanho de uma galáxia de dimensão média. Se os primeiros álbuns dos Smashing Pumpkins (o inicial Gish, que comprei sem ouvir - há duas dúzias de anos, a net era um boato estranho - por recomendação do defunto jornal Sete, o fantástico Siamese Dream, que os pôs no mapa, e o monumental Mellon Collie and the Infinite Sadness, que por instantes os transformou numa das maiores bandas do mundo) justificavam todas as megalomanias, a maioria da música que Corgan (sozinho, com bandas momentâneas ou em nome dos Abóboras) lançou desde então (e em particular desde Machina / The Machines of God, de 2000), não era má mas esquecia-se em dois minutos e trinta e nove segundos (fiz o teste mas não foi fácil porque me esquecia de desligar o cronómetro no mesmo instante em que me esquecia da música). A situação evoluiu com Oceania, o álbum anterior a este, e continua a evoluir com Monuments to an Elegy, um conjunto de nove canções curtas e globalmente melodiosas, onde a raiva (por vezes espalhafatosa) e o desespero (por vezes lamuriento) habituais em Corgan cedem lugar a algo mais parecido com maturidade (ou talvez resignação, que - quem diria - pode afinal ser coisa boa). Não trazendo o que quer que seja de verdadeiramente novo (é rock alternativo baseado em guitarras, com acrescentos de sintetizadores), não indo ficar na história (até porque o rock continua fora de moda), Monuments to an Elegy parece-me o melhor trabalho de Corgan em muitos anos. A única coisa grandiloquente nele é mesmo o título.
Nikki Nack, de tUnE-yArDs.
tUnE-yArDs é basicamente Merril Garbus, uma ex-marionetista capaz de juntar ritmos aparentemente desconexos de forma tão perfeita como António Lobo Antunes une palavras nos títulos dos seus livros mais recentes. Não obstante já terem decorrido uns meses desde que o álbum foi lançado, ainda estou a tentar decidir de que forma é esta canção (o primeiro single) genial - se pela capacidade de invenção, descomplexidade (música assim merece palavras novas) e ritmo dançável que apresenta, se por constituir a conjugação de sons mais irritante que saiu em 2014. Decidam por vocês mesmos ou - quem sou eu para exigir autonomia às pessoas? - perguntem a quem vos costuma fornecer as opiniões. O resto do álbum segue a mesma linha, sendo quiçá um pouco menos melódico.
Rua da Emenda, de António Zambujo.
Zambujo classificou este álbum como um ponto de chegada. Percebe-se. Tem um pouco de tudo o que fez no passado, das sonoridades típicas de Portugal (incluindo as do fado onde iniciou a carreira) a sons, ritmos e palavras de muitos outros locais, com destaque para o Brasil, para o Uruguai e para a França (com uma curiosa versão de La Chanson de Prévert, de Gainsbourg, que, admito, ainda não me conquistou por completo). Tem também - coisa sempre louvável e mais rara do que deveria ser - doses saudáveis de humor. O grande desafio de Zambujo poderá estar no próximo: um ponto de chegada, quando esta não é definitiva, pressupõe uma nova partida e um novo percurso.
Everybody Down, de Kate Tempest.
Are We There, de Sharon Van Etten.
A carreira de Sharon Van Etten começou quando entregou um CD-R com músicas a Kyp Malone, dos TV on the Radio, e consolidou-se ao gravar Tramp, o álbum de 2012, no estúdio de Aaron Dressler, um dos gémeos (e principal compositor) dos The National. Como referências, seria difícil conseguir melhor. Em Are We There Van Etten justifica-as plenamente, criando sonoridades densas e melancólicas, com uma languidez constantemente ameaçada por vibrações subterrâneas - e pelas letras. Na verdade, se o álbum tem algum defeito, é poder constituir uma dose ligeiramente excessiva de melancolia e desencanto. Seja como for, e respondendo à questão posta no título, se Sharon não está lá, está certamente quase a chegar.
Songs of Innocence, dos U2.
Corrente, dos Clã.
O principal problema dos Clã não é de expressão mas conseguirem manter atractiva a pop inteligente e sofisticada que fazem quando a) já ultrapassaram os vinte anos de carreira (para mais, numa época e numa categoria de música em que a novidade impera), b) já surgiram em múltiplos projectos paralelos que lhes aumentaram a notoriedade mas também fizeram crescer o risco de muita gente se fartar deles, c) vários dos seus temas foram submetidos ao desgaste (o esforço que fiz para não escrever «ignomínia») de servirem de genérico a telenovelas e afins, d) a música é consumida de forma cada vez mais desatenta, circunstância que beneficia temas de subtileza mais limitada que os deles. Passando sobre tudo isto, nenhuma outra banda em Portugal tem conseguido manter consistentemente um nível tão elevado, balanço perfeito entre música ultra-burilada que consegue não soar excessivamente produzida, letras que moldam mas respeitam a língua portuguesa, e extraordinária presença em palco. E depois, claro, há Manuela Azevedo.
Gouveia, 2008. Dependendo do preço, posso fotografar casamentos e baptizados.
Tough Love, de Jessie Ware.
Em 2012, o primeiro álbum de Jessie Ware recebeu excelentes críticas mas não me convenceu por aí além. Estava cheio de temas bem feitos e ambiciosos, com ritmo dançável (à la Beyoncé, digamos), mas, no que me diz respeito, sem o que quer que fosse de verdadeiramente especial.
Em 2014, o segundo álbum de Jessie Ware recebeu críticas menos entusiásticas mas agradou-me bastante. Continuando a ser pop relativamente standard, afigura-se-me mais ponderado e subtil, fugindo a sonoridades e poses grandiloquentes.
O desempate deve acontecer lá para 2016.
St. Vincent, de St. Vincent.
Sylvan Esso, dos Sylvan Esso.
A Bunch of Meninos, dos Dead Combo.
Podia ter constituído um epifenómeno, com a duração de um par de álbuns. A música podia ter estagnado, não ultrapassando o efeito de novidade. A imagem, elaborada mas altamente irónica e artificial, podia não ter resistido ao desgaste. E, contudo, Tó Trips e Pedro Gonçalves têm conseguido expandir e variar a sua música de modo a não dar espaço a acusações de rentabilização de uma fórmula esgotada, impedindo de caminho que a imagem surja como simples truque de marketing. A Bunch of Meninos segue uma direcção menos claro do que Lusitânia Playboys ou Lisboa Mulata, contendo uma amálgama ainda mais abrangente de fado, western spaghetti, jazz, rock'n'roll, sonoridades mariachi e africanas. Aqui e ali tem bateria e percussões mas, globalmente, parece mais simples e descarnado do que os discos anteriores, sendo por isso menos imediato. Fica a pergunta de sempre - e agora, para onde? -, feita com muito mais curiosidade do que cepticismo.
(Porque os temas que ilustram são bastante diferentes, incluo dois vídeos.)
The Both, dos The Both.
LP1, de FKA Twigs.
Quase todas as listas de melhores álbuns do ano que vi foram encimadas por uma de duas obras: Lost in the Dream, dos The War on Drugs, e LP1, de FKA Twings. Ambos me deixaram com sensações contraditórias mas, sensivelmente pelos mesmos motivos que tanta gente pareceu apreciá-lo, Lost in the Dream cansou-me depressa (soa-me a rock clássico com uma pitada de psicadelismo - combinação nada recente - e outra de presunção). O caleidoscópio de sons (onde se inclui a voz, por vezes mecânica, por vezes carnal) erigido pela britânica Tahliah Barnett, no entanto, ainda me deixa a pensar que muito está a escapar-me. E, no que me diz respeito, isso costuma ser uma coisa boa.
P. S.: Este é certamente um dos vídeos mais polémicos do ano.
Down Where the Spirit Meets the Bone, de Lucinda Williams.
Lucinda Williams manteve-se sempre ligeiramente na sombra de outros nomes da country, nunca tendo atingido o estatuto de estrela. A partir de certa altura, esse estatuto também já não seria adequado, uma vez que a música dela se espraiou em direcção aos outros géneros tipicamente americanos. Down Where the Spirit Meets the Bone é um álbum duplo com 20 temas e mais de uma centena de minutos, facto só por si assinalável numa época em que muitos álbuns não atingem os trinta. Não tem propriamente surpresas mas inclui rock clássico, country-soul, blues em que se sente a humidade dos pântanos do Louisiana. E a voz rouca de Lucinda, que nunca foi especialmente forte mas exsuda genuinidade e experiência de vida.
True, de Legendary Tiger Man.
Comecemos por uma constatação: o lendário homem-tigre está domesticado. Basta comparar capas e folhetos dos seus álbuns. A nudez feminina (e, num dos casos, dele próprio) desapareceu. Títulos como Fuck Christmas, I Got the Blues foram substituídos por um singelo True, o qual levanta a questão se saber se era então falso o homem-tigre altamente sexuado e ligeiramente demoníaco do passado. Enfim, suponho que aos quarenta e tal anos um tipo tem direito a assentar. Tem direito a tornar-se um homem-gato ou, vá lá, um homem-lince (que os linces até podem ser selvagens mas não assustam ninguém). Felizmente, podemos limitar-nos a ouvir a música - e ela continua excelente, um pedaço dos confins dos Estados Unidos num Portugal fadista.
Capas de outros tempos.
The Future's Void, de EMA.
Unrepentant Geraldines, de Tori Amos.
Se Blank Project, de Neneh Cherry, constituiu o regresso do ano, Unrepentant Geraldines foi o melhor regresso à boa forma de 2014. Tori Amos encontrava-se há muito naquele registo simpático em que o adjectivo é mais insulto do que elogio. Unrepentant Geraldines não atinge os píncaros dos álbuns da década de 90 mas recupera parte da simbiose um tudo-nada incongruente entre a voz (em excelente condição) de Tori e os sons que extrai do piano, para além de apresentar letras salpicadas de associações deliciosamente inusitadas (Before you drop another verbal bomb, can I arm myself with Cezanne's 16 shades of blue?), menos focadas no plano sexual do que noutros tempos mas onde se continua a encontrar, para além de várias referências ao universo religioso, a preocupação em analisar as fragilidades e forças de ser mulher, agora menos nova (You say "Get over it; if 50 is the new black, hooray, this could be your lucky day"), mãe há já catorze anos (trouble needs a home, girls, soa a aviso à filha e respectivas amigas), com uma experiência totalmente diferente dos pontos positivos e negativos das relações amorosas (em Wild Ways, o I hate you, I hate you, I do, I hate that you're the one who can make me feel gorgeous with just, just a flick of your finger alterna com I hate you, I hate you, I do, I hate that I turn into a kind, some kind of monster, with just, just a flick of your finger). Em certos momentos (a meio do primeiro tema, por exemplo) Tori nem se importa de voltar a arriscar comparações com Kate Bush (outro regresso de 2014, mas aos palcos). Podia ser embaraçoso, é apenas prova de confiança.
Blank Project, de Neneh Cherry.
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