como sobreviver submerso.

Sábado, 24 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (20)

 

Abandoned City, de Hauschka.

 

Cheguei a Hauschka (o alemão Volker Bertelmann) através da violinista Hilary Hahn quando, em 2012, os dois lançaram Silfra, uma dúzia de temas improvisados. Hauschka já lançara vários álbuns por essa altura, incluindo Salon des Amateurs, de 2011, onde Hahn também colaborou. A base da música do alemão é o piano, preparado com vários objectos para lhe modificar o som (à la John Cage, embora Hauschka afirme que desconhecia o trabalho de Cage quando teve a ideia). Tanto Salon des Amateurs como Abandoned City funcionam muito à base de ritmos. As melodias são simples mas os temas adquirem complexidade e sofisticação devido aos efeitos (introduzidos pelos objectos mas também por atrasos e reverberações electrónicas) que, mesmo quando ele não tem convidados (como em Abandoned City), geram um leque de sons que parece impossível terem resultado apenas de um piano. Evocando cidades reais abandonadas na sequência de acidentes ou conflitos (Pripyat, perto de Chernobyl; Agdam, no Azerbeijão), Abandoned City é por vezes melancólico, por vezes ameaçador, por vezes quase dançável. Sendo talvez o trabalho mais depurado de Hauschka, deixa ainda assim no ar a questão de saber até onde será ele capaz de levar o conceito. A resposta, porém, também pode estar no álbum: Who Lived There, um tema suave e melódico, indicia que o alemão possui capacidades criativas suficientes para, se for necessário, dispensar a introdução de bolas e de pedaços de papel no piano.

 

(E pronto. Esta série fica por aqui.)



publicado por José António Abreu às 19:12
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Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (19)

 

Hozier, de Hozier.

 

Hozier é um irlandês de 24 anos que saltou para a ribalta (primeiro local, depois também no Reino Unido) nos finais de 2013, quando o tema Take Me to Church atingiu o segundo lugar da tabela de singles irlandesa e o respectivo vídeo se tornou viral na internet. Take Me to Church é rock com ligeiro sabor gospel, abordando a relação difícil entre os irlandeses e a Igreja Católica, o vídeo uma denúncia da violência contra os homossexuais, citando especificamente a situação na Rússia. No primeiro álbum, lançado há cerca de quatro meses, Hozier continua a introduzir nuances de blues em temas que conseguem manter-se ligeiramente frágeis (no bom sentido) ainda que por vezes cresçam até soarem a rock de estádio. Extrair optimismo de assuntos difíceis sem tombar em lugares-comuns parece ser uma das capacidades do irlandês.


publicado por José António Abreu às 17:40
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Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (18)

 

Monuments to an Elegy, dos Smashing Pumpkins.

 

Em várias ocasiões, o ego de Billy Corgan pareceu atingir o tamanho de uma galáxia de dimensão média. Se os primeiros álbuns dos Smashing Pumpkins (o inicial Gish, que comprei sem ouvir - há duas dúzias de anos, a net era um boato estranho - por recomendação do defunto jornal Sete, o fantástico Siamese Dream, que os pôs no mapa, e o monumental Mellon Collie and the Infinite Sadness, que por instantes os transformou numa das maiores bandas do mundo) justificavam todas as megalomanias, a maioria da música que Corgan (sozinho, com bandas momentâneas ou em nome dos Abóboras) lançou desde então (e em particular desde Machina / The Machines of God, de 2000), não era má mas esquecia-se em dois minutos e trinta e nove segundos (fiz o teste mas não foi fácil porque me esquecia de desligar o cronómetro no mesmo instante em que me esquecia da música). A situação evoluiu com Oceania, o álbum anterior a este, e continua a evoluir com Monuments to an Elegy, um conjunto de nove canções curtas e globalmente melodiosas, onde a raiva (por vezes espalhafatosa) e o desespero (por vezes lamuriento) habituais em Corgan cedem lugar a algo mais parecido com maturidade (ou talvez resignação, que - quem diria - pode afinal ser coisa boa). Não trazendo o que quer que seja de verdadeiramente novo (é rock alternativo baseado em guitarras, com acrescentos de sintetizadores), não indo ficar na história (até porque o rock continua fora de moda), Monuments to an Elegy parece-me o melhor trabalho de Corgan em muitos anos. A única coisa grandiloquente nele é mesmo o título.



publicado por José António Abreu às 19:13
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Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (17)

 

Nikki Nack, de tUnE-yArDs.

 

tUnE-yArDs é basicamente Merril Garbus, uma ex-marionetista capaz de juntar ritmos aparentemente desconexos de forma tão perfeita como António Lobo Antunes une palavras nos títulos dos seus livros mais recentes. Não obstante já terem decorrido uns meses desde que o álbum foi lançado, ainda estou a tentar decidir de que forma é esta canção (o primeiro single) genial - se pela capacidade de invenção, descomplexidade (música assim merece palavras novas) e ritmo dançável que apresenta, se por constituir a conjugação de sons mais irritante que saiu em 2014. Decidam por vocês mesmos ou - quem sou eu para exigir autonomia às pessoas? - perguntem a quem vos costuma fornecer as opiniões. O resto do álbum segue a mesma linha, sendo quiçá um pouco menos melódico.



publicado por José António Abreu às 20:42
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Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (16)

 

Rua da Emenda, de António Zambujo.

 

Zambujo classificou este álbum como um ponto de chegada. Percebe-se. Tem um pouco de tudo o que fez no passado, das sonoridades típicas de Portugal (incluindo as do fado onde iniciou a carreira) a sons, ritmos e palavras de muitos outros locais, com destaque para o Brasil, para o Uruguai e para a França (com uma curiosa versão de La Chanson de Prévert, de Gainsbourg, que, admito, ainda não me conquistou por completo). Tem também - coisa sempre louvável e mais rara do que deveria ser - doses saudáveis de humor. O grande desafio de Zambujo poderá estar no próximo: um ponto de chegada, quando esta não é definitiva, pressupõe uma nova partida e um novo percurso.



publicado por José António Abreu às 17:43
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Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (15)

 

Everybody Down, de Kate Tempest.

 

Não sou o maior fã mundial do hip-hop, em grande medida porque a raiva e contestação que costumam conferir-lhe sentido tendem a esgotar-se ou a parecer artificiais assim que os projectos obtêm sucesso. Este álbum de Kate Tempest agradou-me por constituir não uma série de queixas ou acusações provindas de quem nasceu (ou quer parecer ter nascido) em ambiente económico difícil mas um conjunto de mini-histórias bem delineadas, assentes em letras inteligentes que procuram muito mais a evocação do que o efeito fácil. No fundo, é tanto um álbum de música como uma obra literária, facto compreensível quando Tempest também se dedica a escrever poesia (ganhou o prémio Ted Hughes com o poema narrativo Brand New Ancients, que costuma apresentar em espectáculos ao vivo) e peças de teatro. Nesse sentido, perde bastante se ouvido como música de fundo ou enquanto se faz qualquer outra coisa - incluindo ler posts de blogue.


publicado por José António Abreu às 19:08
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Domingo, 18 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (14)

 

 Are We There, de Sharon Van Etten.

 

A carreira de Sharon Van Etten começou quando entregou um CD-R com músicas a Kyp Malone, dos TV on the Radio, e consolidou-se ao gravar Tramp, o álbum de 2012, no estúdio de Aaron Dressler, um dos gémeos (e principal compositor) dos The National. Como referências, seria difícil conseguir melhor. Em Are We There Van Etten justifica-as plenamente, criando sonoridades densas e melancólicas, com uma languidez constantemente ameaçada por vibrações subterrâneas - e pelas letras. Na verdade, se o álbum tem algum defeito, é poder constituir uma dose ligeiramente excessiva de melancolia e desencanto. Seja como for, e respondendo à questão posta no título, se Sharon não está lá, está certamente quase a chegar.



publicado por José António Abreu às 14:54
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Sábado, 17 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (13)

 

Songs of Innocence, dos U2.

 

Bono não se me tornou insuportável na última dúzia de anos porque compensa a imagem de autoproclamado arauto da solidariedade entre nações polvilhando as letras que escreve e canta com lembretes de auto-ironia (em The Miracle: We got […] music so I can exaggerate my pain). A polémica em torno do lançamento de Songs of Innocence interessa-me fundamentalmente por ter dificultado a apreciação honesta dos temas que o compõem. E sobre estes já disse o suficiente.


publicado por José António Abreu às 17:59
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Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (12)

 

Corrente, dos Clã.

 

O principal problema dos Clã não é de expressão mas conseguirem manter atractiva a pop inteligente e sofisticada que fazem quando a) já ultrapassaram os vinte anos de carreira (para mais, numa época e numa categoria de música em que a novidade impera), b) já surgiram em múltiplos projectos paralelos que lhes aumentaram a notoriedade mas também fizeram crescer o risco de muita gente se fartar deles, c) vários dos seus temas foram submetidos ao desgaste (o esforço que fiz para não escrever «ignomínia») de servirem de genérico a telenovelas e afins, d) a música é consumida de forma cada vez mais desatenta, circunstância que beneficia temas de subtileza mais limitada que os deles. Passando sobre tudo isto, nenhuma outra banda em Portugal tem conseguido manter consistentemente um nível tão elevado, balanço perfeito entre música ultra-burilada que consegue não soar excessivamente produzida, letras que moldam mas respeitam a língua portuguesa, e extraordinária presença em palco. E depois, claro, há Manuela Azevedo.

 

 

Gouveia, 2008. Dependendo do preço, posso fotografar casamentos e baptizados.



publicado por José António Abreu às 17:02
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Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (11)

 

Tough Love, de Jessie Ware.

 

Em 2012, o primeiro álbum de Jessie Ware recebeu excelentes críticas mas não me convenceu por aí além. Estava cheio de temas bem feitos e ambiciosos, com ritmo dançável (à la Beyoncé, digamos), mas, no que me diz respeito, sem o que quer que fosse de verdadeiramente especial.

Em 2014, o segundo álbum de Jessie Ware recebeu críticas menos entusiásticas mas agradou-me bastante. Continuando a ser pop relativamente standard, afigura-se-me mais ponderado e subtil, fugindo a sonoridades e poses grandiloquentes.

O desempate deve acontecer lá para 2016.



publicado por José António Abreu às 20:33
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Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (10)

 

St. Vincent, de St. Vincent.

 

Annie Clark incomodou muita gente em 2014. Produziu um vídeo tão estilizado e cerebral que mestres zen e especialistas em feng shui ainda estão a reordenar ideias. Respondeu às acusações de ser uma tipa fria e cerebral - a repetição do termo é propositada - com uma actuação no Saturday Night Live que incluiu sons à guitar hero, executados (por uma mulher, valha-nos deus) com passinhos de bebé e expressão impassível (o vídeo acima permite uma ideia, embora aproximada). Cantou - com aquele tom (e pose) de quem percebeu a piada três quartos de hora antes de todos os outros - acerca do momento em que sentiu vontade de se despir em pleno deserto, acabando a fugir nua de uma cascavel (a história foi apresentada como verdadeira - mas será?). Também cantou (em pose e tom similares) a tirada do ano (de acordo com a votação de um membro do Delito de Opinião) : Oh, what an ordinary day, take out the garbage, masturbate... I´m still holding for the laugh. Tudo isto partindo de um álbum a que decidiu não dar outro título que não o seu nome artístico, sabe-se lá se por pretender garantir que tudo o que lá vem são reflexos genuínos de quem ela é na verdade, se por ter chegado à conclusão de que chamar-lhe Actor (como o que lançou em 2009) ou algo parecido se tornou redundante. Quando a pose (para mais, ferozmente inteligente) é mantida em permanência, ainda faz sentido chamar-lhe pose?


publicado por José António Abreu às 17:55
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Terça-feira, 13 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (9)

 

Sylvan Esso, dos Sylvan Esso.

 

Sylvan Esso é um duo composto pela cantora folk Amelia Meath, das Mountain Man, e pelo produtor de música electrónica Nick Sanborn. A sonoridade do seu primeiro álbum pende para o lado electrónico da balança mas a voz de Meath, bem como alguns ritmos (mais evidentes no tema de abertura, um daqueles casos em que a primeira reacção tende a ser «WTF?» mas depois não apenas tudo encaixa como parece estranho ter parecido estranho), conferem ao projecto um sabor levemente peculiar que me agrada bastante.

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Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (8)

 

A Bunch of Meninos, dos Dead Combo.

 

Podia ter constituído um epifenómeno, com a duração de um par de álbuns. A música podia ter estagnado, não ultrapassando o efeito de novidade. A imagem, elaborada mas altamente irónica e artificial, podia não ter resistido ao desgaste. E, contudo, Tó Trips e Pedro Gonçalves têm conseguido expandir e variar a sua música de modo a não dar espaço a acusações de rentabilização de uma fórmula esgotada, impedindo de caminho que a imagem surja como simples truque de marketing. A Bunch of Meninos segue uma direcção menos claro do que Lusitânia Playboys ou Lisboa Mulata, contendo uma amálgama ainda mais abrangente de fado, western spaghetti, jazz, rock'n'roll, sonoridades mariachi e africanas. Aqui e ali tem bateria e percussões mas, globalmente, parece mais simples e descarnado do que os discos anteriores, sendo por isso menos imediato. Fica a pergunta de sempre - e agora, para onde? -, feita com muito mais curiosidade do que cepticismo.

 

(Porque os temas que ilustram são bastante diferentes, incluo dois vídeos.)


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publicado por José António Abreu às 19:18
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Domingo, 11 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (7)

 

The Both, dos The Both.

 

Quando, há pouco mais de um ano, Aimee Mann passou por Portugal, Ted Leo já a acompanhava, fazendo a primeira parte dos concertos. Cantavam mesmo juntos alguns temas desenvolvidos pelos dois, os quais iriam fazer parte de um álbum a lançar em 2014. O álbum saiu e, apesar de ter sido muito pouco publicitado, é talvez o melhor de Aimee em vários anos. A carreira de Ted Leo foi feita à base de sonoridades mais agressivas do que as habituais na música da ex-Till Tuesday e a nota que ele introduz, sem alterar decisivamente o estilo de Mann, confere-lhe não apenas um poder acrescido (conferir o segundo tema, por volta dos 4'45", no mini-concerto acima) mas, curiosamente, também um elevado grau de leveza. Não apenas a conjugação de vozes funciona bem como - era visível em palco e é visível nos videoclips oficiais - existe uma verdadeira cumplicidade entre ambos, baseada numa assinalável - por vezes quase adolescente - dose de humor.

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publicado por José António Abreu às 17:23
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Sábado, 10 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (6)

 

LP1, de FKA Twigs.

 

Quase todas as listas de melhores álbuns do ano que vi foram encimadas por uma de duas obras: Lost in the Dream, dos The War on Drugs, e LP1, de FKA Twings. Ambos me deixaram com sensações contraditórias mas, sensivelmente pelos mesmos motivos que tanta gente pareceu apreciá-lo, Lost in the Dream cansou-me depressa (soa-me a rock clássico com uma pitada de psicadelismo - combinação nada recente - e outra de presunção). O caleidoscópio de sons (onde se inclui a voz, por vezes mecânica, por vezes carnal) erigido pela britânica Tahliah Barnett, no entanto, ainda me deixa a pensar que muito está a escapar-me. E, no que me diz respeito, isso costuma ser uma coisa boa.

 

P. S.: Este é certamente um dos vídeos mais polémicos do ano.


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publicado por José António Abreu às 17:55
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Sexta-feira, 9 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (5)

 

Down Where the Spirit Meets the Bone, de Lucinda Williams.

 

Lucinda Williams manteve-se sempre ligeiramente na sombra de outros nomes da country, nunca tendo atingido o estatuto de estrela. A partir de certa altura, esse estatuto também já não seria adequado, uma vez que a música dela se espraiou em direcção aos outros géneros tipicamente americanos. Down Where the Spirit Meets the Bone é um álbum duplo com 20 temas e mais de uma centena de minutos, facto só por si assinalável numa época em que muitos álbuns não atingem os trinta. Não tem propriamente surpresas mas inclui rock clássico, country-soul, blues em que se sente a humidade dos pântanos do Louisiana. E a voz rouca de Lucinda, que nunca foi especialmente forte mas exsuda genuinidade e experiência de vida.


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publicado por José António Abreu às 18:50
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Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (4)

 

True, de Legendary Tiger Man.

 

Comecemos por uma constatação: o lendário homem-tigre está domesticado. Basta comparar capas e folhetos dos seus álbuns. A nudez feminina (e, num dos casos, dele próprio) desapareceu. Títulos como Fuck Christmas, I Got the Blues foram substituídos por um singelo True, o qual levanta a questão se saber se era então falso o homem-tigre altamente sexuado e ligeiramente demoníaco do passado. Enfim, suponho que aos quarenta e tal anos um tipo tem direito a assentar. Tem direito a tornar-se um homem-gato ou, vá lá, um homem-lince (que os linces até podem ser selvagens mas não assustam ninguém). Felizmente, podemos limitar-nos a ouvir a música - e ela continua excelente, um pedaço dos confins dos Estados Unidos num Portugal fadista.

 

Blog_Tigerman.jpg

Capas de outros tempos.


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publicado por José António Abreu às 17:41
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Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (3)

 

The Future's Void, de EMA.

 

Ao segundo álbum, EMA (a americana Erika M. Anderson) continua mergulhada nas questões da identidade num mundo cada vez mais cibernético e impessoal, onde toda a gente cria alias virtuais para esconder a insatisfação da vida real, e onde a privacidade é um conceito cada vez mais difícil de apreender - e de defender. The Future's Void (o título é claro sobre o nível de optimismo de Anderson) inicia-se com um tema que, não se aprofundando a letra, até soa upbeat (e a anos noventa), antes de mergulhar em sonoridades mais densas. A preocupação com a tecnologia, porém, é vista quase sempre a partir de um prisma emocional muito pessoal. Aqui e ali, é como se Anderson não estivesse apenas a cantar sobre assuntos que deviam preocupar toda a gente mas a tentar esconjurar o receio de constituir apenas mais uma peça na engrenagem: makin a living off of takin selfies; is that the way that you want it to be?

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publicado por José António Abreu às 18:04
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Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (2)

 

Unrepentant Geraldines, de Tori Amos.

 

Se Blank Project, de Neneh Cherry, constituiu o regresso do ano, Unrepentant Geraldines foi o melhor regresso à boa forma de 2014. Tori Amos encontrava-se há muito naquele registo simpático em que o adjectivo é mais insulto do que elogio. Unrepentant Geraldines não atinge os píncaros dos álbuns da década de 90 mas recupera parte da simbiose um tudo-nada incongruente entre a voz (em excelente condição) de Tori e os sons que extrai do piano, para além de apresentar letras salpicadas de associações deliciosamente inusitadas (Before you drop another verbal bomb, can I arm myself with Cezanne's 16 shades of blue?), menos focadas no plano sexual do que noutros tempos mas onde se continua a encontrar, para além de várias referências ao universo religioso, a preocupação em analisar as fragilidades e forças de ser mulher, agora menos nova (You say "Get over it; if 50 is the new black, hooray, this could be your lucky day"), mãe há já catorze anos (trouble needs a home, girls, soa a aviso à filha e respectivas amigas), com uma experiência totalmente diferente dos pontos positivos e negativos das relações amorosas (em Wild Ways, o I hate you, I hate you, I do, I hate that you're the one who can make me feel gorgeous with just, just a flick of your finger alterna com I hate you, I hate you, I do, I hate that I turn into a kind, some kind of monster, with just, just a flick of your finger). Em certos momentos (a meio do primeiro tema, por exemplo) Tori nem se importa de voltar a arriscar comparações com Kate Bush (outro regresso de 2014, mas aos palcos). Podia ser embaraçoso, é apenas prova de confiança.



publicado por José António Abreu às 18:00
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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2015
Uns quantos álbuns de 2014 (1)

 

Blank Project, de Neneh Cherry.

 

Comecemos pelo que, para mim, foi o regresso de 2014. Há um par de anos, em colaboração com o trio de jazz The Thing (cuja formação foi inspirada pelo trabalho do trompetista Don Cherry, padrasto de Neneh), Cherry lançara um excelente álbum de música muito pouco comercial (ainda que constituída na maior parte por versões), apropriadamente intitulado The Cherry Thing. Em nome pessoal, contudo, já não apresentava um trabalho desde 1996.
Para quem desejava temas com o imediatismo dos velhos êxitos (Buffalo Stance, Manchild, 7 Seconds), Blank Project terá sido uma desilusão. A jovem do final dos anos 80 e início dos 90 foi substituida por uma mulher madura, com prioridades diferentes e outra forma de colocar os assuntos. O primeiro tema, Across the Water (uma maravilha minimalista, com partes que são mais spoken word do que canção, centrada na perda da mãe e nos receios do que o futuro pode trazer às filhas) é um retrato perfeito do que move Neneh hoje em dia mas, colocado a abrir, é também uma uma forma de evitar ilusões. O resto, sendo até mais «normal», permanece pouco interessado em trajectos óbvios, capazes de conquistar rádios e tops. Nem sequer - e disso tenho pena - os tops dos melhores álbuns do ano.

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publicado por José António Abreu às 17:14
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