No mês passado, numa entrevista ao Diário Económico, José Gil dizia: “Tenho horror ao kitsch, tanto que me fascina, o que é suspeito.” Compreendo-o. Penso que toda a gente o compreende. Tantas coisas nos desagradam, nos irritam mesmo, mas quase nos enfeitiçam. Há tempos, confessei que detesto ‘correntes’. A verdade é que cultivo uma longa lista de ódios de estimação: música pimba, astrologia, automóveis kitados, mais programas televisivos do que seria sensato mencionar num post que se pretende não muito longo, comportamentos arrogantes, especialmente quando apoiados na ignorância mais absoluta, conversas sobre o estado do tempo, rock sinfónico, filmes do Michael Bay, discursos do mais-ou-menos-licenciado José Sócrates, explicações repetidas de algo que percebi à primeira e que nem sequer me interessa, perdigotos, cirurgias plásticas para remover rugas, aumentar mamas ou fabricar bundinhas brasileiras, a voz do Rod Stewart, do cantor dos Scorpions e dos manos Gibbs (mas pergunto-me por que estou a separar a voz do resto da música desta gente, que também abomino), doces fritos, roupa fashion kitsch à la Ronaldo (já para não mencionar o penteado), “prontos” e “é assim”, automobilistas que passam com o semáforo vermelho ou só param em cima das passadeiras, karaoke, foguetes (especialmente os que apenas fazem barulho; para que raio servem?), vinagre, humor escatológico ou revisteiro, papéis e pontas de cigarro atirados das janelas dos carros, erros flagrantes de português assumidos com pesporrência, a linguagem que os 'jovens' usam na net ou nas mensagens sms, o prazer com que muitas pessoas parecem não querer aprender coisas novas, o uso de fato e gravata com trinta e cinco graus de temperatura à sombra, telemóveis com músicas irritantes atendidos aos berros em locais inconvenientes, cuspidelas para o chão, a moda dos SUVs, o fanatismo, o jornalismo pela rama, a exigência de ‘respeitinho’. E mais outros tantos. Também detesto declarações humildes de José Saramago mas esse é um ódio que raramente tenho oportunidade de exercitar.
Procuro tratar com cuidado os meus ódios de estimação. Afinal, num efeito similar ao que o kitsch exerce em José Gil, eles fascinam-me. Mantenho-os num cantinho confortável do cérebro e pontapeio-os quando os pensamentos me passam por perto.
pessoais
Amor e Morte em Pequenas Doses
blogues
O MacGuffin (Contra a Corrente)
blogues sobre livros
blogues sobre fotografia
blogues sobre música
blogues de repórteres
leituras
cinema
fotografia
música
jogos de vídeo
automóveis
desporto
gadgets