como sobreviver submerso.

Terça-feira, 18 de Agosto de 2009
Histeria

Estou farto da gripe. (Que, apesar das deslocações à Alemanha e a Espanha, não tenho, deixem-me acrescentar antes que alguém saia precipitadamente do blogue.) Está em todo o lado. A comunicação social massacra-nos diariamente com o número de casos novos e várias vezes por semana mostra-nos o inefável Francisco George, que me provoca sempre vontade de atirar qualquer coisa ao ecrã do televisor, nem que seja uma baforada de fumo de tabaco (logo eu que nunca fumei), ou de contratar um gangster barbeiro que o enfiasse num furgão e lhe cortasse a barba. Em empresas onde os gestores nunca se preocuparam com a qualidade do ar que os funcionários respiram emitem-se normas internas com partes mais ou menos iguais de paternalismo e de ameaça. Afixam-se bandas desenhadas ensinando como lavar as mãos nas portas de casas de banho públicas e privadas. Instalam-se pulverizadores com um líquido cheirando a álcool em restaurantes, empresas financeiras e – suponho – prostíbulos. (Aposto que há quem, sem dinheiro para melhor, experimente bebê-lo.) A ministra da Saúde anda num corrupio de visitas e declarações que incluem ameaças a quem espirra em público. Os pais engasgam as crianças com Tamiflu antes dos médicos avisarem que não se deve dar Tamiflu às crianças.

 
Dir-se-ia que estamos perante uma nova peste negra. Repare-se: nada tenho contra a tomada de precauções, especialmente em grupos de risco. E é natural que algumas instituições se preocupem com a possibilidade de terem muita gente doente em simultâneo. Mas, de resto, é só uma gripe. (O esforço que tive de fazer para não pôr a última frase em maiúsculas ou rematá-la com meia dúzia de pontos de exclamação.) Puxadita, ok, mas uma gripe.
 

Não é de agora, claro. Muito pelo contrário. É sempre assim, seja quando as vacas – loucas  começam a fazer bilu-bilu-biluuuu, os frangos – tóxicos destilam nitrofuranos, as galinhas – febris  põem ovos cozidos ou os porcos – engripados – fungam ainda mais que o costume. Compare-se o tempo gasto com a gripe pelos noticiários televisivos nacionais com o que os canais estrangeiros lhe dedicam. Sim, eu sei, não há comparação possível. Leia-se o que Bernardo Pires de Lima escreveu no União de Facto. É verdade. Totalmente verdade. Mas, para ser honesto, nada disto admira. Temos um Primeiro-Ministro que, após quatro anos e meio de actos de fé e arrogância, pretende que, sem ele, o país retrocederá à Idade Média. Somos – ou tentam fazer-nos – um povo de histéricos.

 

Imagem retirada daqui.



publicado por José António Abreu às 20:04
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Sábado, 15 de Agosto de 2009
A aluna e o mestre

Vários blogues (um, dois, três) chamaram a atenção para as declarações à TV de Carolina Patrocínio, a rapariga que o PS escolheu para mandatária da juventude e que tem apresentado algumas das incontáveis sessões de informação/propaganda que nos pretendem descerrar os olhos para o cerebrino desempenho de Sócrates, Lino e companhia. Num estilo, digamos, ditirambicamente auto-centrado, a rapariga provou ter a cabeça tão oca quanto as cerejas que só come depois da empregada lhes retirar o caroço (podem ver o vídeo aqui). Devo dizer que me parece uma escolha perfeitamente adequada para este PS e, especialmente, para este Secretário-Geral do PS. Relembremos a carreira de Sócrates: assinou projectos alheios, obteve licenciaturas por fax, fez carreira profissional num partido político, escolheu de forma pouco clara parceiros do governo que acabou por dirigir, defendeu teorias liberais numa semana e intervencionistas na seguinte, atacou ferozmente os adversários políticos por lhe colocarem questões difíceis no Parlamento e os jornalistas por não ignorarem notícias de escândalos em que o nome dele surgia envolvido, permitiu pressões sobre os magistrados que investigavam esses escândalos, inventou relatórios da OCDE, apoiou gente que perseguiu quem teve o descaramento de contar piadas acerca dele, contratou crianças para figurarem num dos já referidos shows esquecendo-se de pôr no final o aviso de que tínhamos acabado de assistir a uma obra de ficção, e revelou sempre, mas sempre o maior cuidado com as aparências (de tal modo que baixou o IVA para os ginásios e nunca esqueceu a corridinha panfletária por entre guarda-costas e operadores de câmara esbaforidos em todas as viagens oficiais que fez). Talvez com receio de que isto pudesse passar uma imagem de futilidade (mas terão os fúteis noção da sua futilidade?), tentou contrabalançar anunciando umas quantas reformas e várias obras públicas monumentais. Não teve grande sucesso porque (fiquemos por dois exemplos) tinha as coisas tão bem preparadas que nem os melhores professores entenderam o sistema de avaliação dos professores, e ao primeiro estudo feito com uma imagem de satélite e uma máquina de calcular se provou que a irredutível decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa tinha que ser corrigida. Depois confessou ter descurado a cultura, pestanejou três vezes com ar compungido, recuperou para afirmar estar muito satisfeito consigo próprio, referiu-se a “Caines” e toda a gente desatou a rir. Desconfio que, investigando um pouco, chegar-se-ia à conclusão de que alguém também lhe descaroça as cerejas. Pormenor irrelevante, aliás.



publicado por José António Abreu às 19:40
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Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009
Prisão preventiva, já

A PJ levou para interrogatório os dois elementos do 31 da Armada que foram devolver a bandeira da autarquia. Na sequência de um caso desta gravidade (passeio por cidade com escadote, subida a varanda pública, troca de bandeira alfacinha por bandeira de Vila Viçosa*, imitação não autorizada de Darth Vader, admissão de acto ilícito**, alteração das condições de limpeza da bandeira retirada antes da sua devolução) espera-se que ambos permaneçam em prisão preventiva, partilhando a cela deixada vaga por Oliveira e Costa. Já agora, que a PJ aproveite para lhes dar um daqueles banhos de agulheta que se vêem nos filmes. Eles até parecem rapazes limpinhos mas há oportunidades a não perder.

 

* É favor tomar isto em sentido figurado (de qualquer forma, têm ambas azul).

** Especialmente grave por poder abrir precedente.



publicado por José António Abreu às 21:23
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Mamã Clijsters

A minha jogadora de ténis preferida, por razões que talvez eu um dia explique, é Elena Dementieva. Mas estou a ver o encontro de Svetlana Kuznetsova com a regressada Kim Clijsters e não consigo deixar de lembrar que foi Clijsters quem mais gostei de ver jogar nos WTA Championships de 2006, em Madrid (a foto foi tirada lá). Perdeu numa excelente meia-final em três sets com Amélie Mauresmo mas foi um prazer ver-lhe a garra, a concentração, a vontade de não desperdiçar tempo (é das jogadoras que menos demora entre serviços). Lembro-me que, na fase de grupos, venceu em cerca de 45 minutos um encontro com a mesma Kuznetsova que defronta hoje. (Após o qual estive prestes a apanhar a bola autografada que bateu na direcção dos belgas que estavam junto a mim, mas faltou-me um bocadinho assim  ainda me raspou nos dedos e o ressalto não me favoreceu). Retirou-se meses depois, casou, foi mãe há um ano e pouco e decidiu agora regressar (como eu já referira aqui), não se sabe se para ficar muito, se pouco tempo (tem apenas 26 anos).

 

O encontro está no terceiro set, depois de Clijsters ganhar o primeiro e Kuznetsova o segundo. Nunca seria fácil, claro. Kuznetsova venceu Roland Garros este ano e está numa das melhores formas de sempre. Clijsters está a jogar o primeiro torneio após decidir regressar. Mas a combatividade continua lá e a forma física também (parece mesmo ter emagrecido). E, agora que é mamã, até se sente à vontade para dizer a um par de miúdos nas bancadas "be seated, ok? Thank you" naquele tom que qualquer criança sabe significar "eu estou bem disposta mas daqui a pouco as coisas mudam e vocês ficam sem televisão, computador e consola de jogos até amanhã".

 

Triplo match point. Ganhou. É um prazer tê-la de volta.

 

(Naturalmente, os miúdos sentaram-se.)



publicado por José António Abreu às 21:12
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Terça-feira, 11 de Agosto de 2009
Nenhuma opinião excepto a oficial

Ele há coisas com piada: enquanto vários jornais e televisões ponderam ignorar a directiva da ERC (Entidade para o Respeitinho na Comunicação?) que tenta proibir os órgãos de comunicação social de manterem comentadores que sejam candidatos às eleições, o Jornal de Notícias, o primeiro jornal a anunciar ir cumpri-la, publica, a um mês e meio das eleições legislativas, um artigo de opinião (?) da autoria de José Sócrates. A rebeldia do Norte já teve melhores dias, carago.



publicado por José António Abreu às 19:58
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Esvaimento

A gente sabe que não concorda politicamente com as pessoas. É um dado assente, já não passível de grande discussão. Não se tem a mesma visão dos problemas e, especialmente, das formas de os resolver. Tudo bem. É democracia. Lêem-se ainda assim as suas opiniões (nos jornais, nos blogues, onde quer que seja) porque deve ter-se consciência de que o mundo não se cinge à nossa lógica e porque, de vez em quando, surgem questões em que nunca pensáramos e que nos fazem reavaliar alguns pontos que dávamos por garantidos. Convém saber que as nossas soluções não são perfeitas (nenhuma o é). Por si só, a discordância não implica menos respeito. Mas quando o que se lê revela apenas facciosismo e cegueira, o respeito esvai-se. Confesso que pensara ser possível alguém fazer a comparação. Pegar num acto assumido e sem danos pessoais ou patrimoniais e equipará-lo a uma acção destruidora e violenta. Mas ainda tive esperança de que, a acontecer, tal comparação não subisse da fossa em que tão frequentemente se transformam as caixas de comentários dos blogues. Enganei-me duplamente. O post é nauseabundo, a caixa de comentários bastante arejada.



publicado por José António Abreu às 13:01
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Domingo, 9 de Agosto de 2009
A criança

Passei o dia de ontem pensando no que poderia dizer acerca de Raul Solnado. A característica dele que me parece mais interessante – e que talvez suscite muito do carinho que granjeou – era a sua forma relutante de fazer humor. Relutante não no sentido de o fazer contrariado mas no da criança (e já muitas pessoas mencionaram o termo ‘criança’ ao se lhe referirem) que avalia o efeito que as suas piadas tiveram, maravilhado pela reacção mas um pouco céptico por tê-la conseguido tão facilmente. Pense-se nos mais conhecidos sketches dele e ver-se-á grande parte da típica ingenuidade infantil. E a frase “façam o favor de ser felizes” tem ou não implícito o “vá lá, façam-me a vontade” com que uma criança pede um brinquedo? Em Solnado, o cepticismo era doce e o cinismo inexistente. Via-o ontem contracenar com Bruno Nogueira no programa que a RTP apresentou depois do telejornal e reforçava essa impressão. Nogueira, como de costume, fazia de gajo esperto mas presunçoso (papel que desempenha na perfeição); Solnado, até quando lhe chamava “cabrão”, fazia-o num tom que deixava subentendido “olha-me este marmanjo” e não “olha-me este filho da puta”. Mesmo quando desempenhava papéis dramáticos (e confesso as minhas falhas porque recordo poucos), a nota dominante era um desamparo infantil e não verdadeira raiva ou maldade. Relembre-se o magnífico Elias de A Balada da Praia dos Cães. O mundo à sua volta era violento e ilógico e ele enfrentava-o com uma resignação muito adulta mas também com uma incompreensão e uma mágoa muito infantis. Como se realmente não percebesse por que carga de água as pessoas não só não queriam ser felizes como até se esforçavam por ser infelizes. A lógica dos adultos é com frequência triste, Raul.

 

Foto pedida emprestada ao Senhor Palomar.



publicado por José António Abreu às 14:57
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Quarta-feira, 5 de Agosto de 2009
Listas

As listas de candidatos a deputados do PSD são uma desilusão. Não por existir pouca renovação (que, dependendo do modo como se virem as coisas, até há) porque esta não deve ser um objectivo mas um meio: significa pouco se, por exemplo, for conseguida através da captação de nomes panfletários como Inês de Medeiros ou Miguel Vale de Almeida (por muita consideração que ambos me mereçam, o convite para as listas do PS não se deveu a Sócrates acreditar piamente na qualidade política deles) mas poderia significar muito se revelasse verdadeira vontade de delinear políticas alternativas ao “centrão” amorfo e umbiguista que nos governa há décadas. Talvez fosse esperar demasiado. Em primeiro lugar, as estruturas locais dos partidos regem-se mais por critérios de interesses pessoais que pelo interesse nacional. Depois, Manuela Ferreira Leite é Cavaquista e deixou-o bem claro ao escolher certos nomes. (Até me parece que Cavaco aprendeu com os erros do passado mas não estou certo de que todos os cavaquistas o tenham feito.) Por fim, no nosso sistema e mentalidade, os deputados acabam – infelizmente – por ser pouco importantes, uma vez que raramente fogem ao guião partidário ou governamental. Em quase todas as circunstâncias, poderiam ser substituídos (com vantagem orçamental) por direitos de voto que os líderes exerceriam aquando das votações. De resto, todos sabemos que, seja qual for o partido que ganhe as eleições, terá que formar a quase totalidade do governo fora do parlamento. Mas é pena que assim seja. É pena que o parlamento não seja o lugar onde estão os portugueses mais capazes. E é pena que o PSD não tenha aproveitado para incluir nas listas gente menos comprometida com o passado e com mais visão de futuro.

 

Há depois os lamentáveis casos dos arguidos António Preto e Helena Lopes da Costa, que – nunca pensei escrevê-lo – fazem incidir outra luz sobre a coragem de Marques Mendes. Há Maria José Nogueira Pinto, que respeito mas não entendo como pôde aceitar fazer parte das listas do PSD numa altura em que apoia uma candidatura autárquica contra o PSD. E há finalmente Passos Coelho. A decisão de o deixar de fora não me incomoda. Passos Coelho foi opositor de Manuela Ferreira Leite quando ambos concorreram à liderança do partido. Perdeu. E a partir daí continuou a ser opositor dela mas – e é somente aqui que reside o problema – fazendo uma oposição traiçoeira e hipócrita. Aparecendo sorridente ao lado de Ferreira Leite antes de disparar declarações farisaicas perante as câmaras televisivas. Ferreira Leite limitou-se a recusar ser tão hipócrita quanto ele.



publicado por José António Abreu às 20:55
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Terça-feira, 4 de Agosto de 2009
A importância da embalagem

Na Fnac, uma senhora dizia para outra: «Só compro livros que tenham capas bonitas.»



publicado por José António Abreu às 20:47
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Quinta-feira, 30 de Julho de 2009
Todo um programa

Perguntaram-me: vamos fazer um programa este fim-de-semana? Respondi: não me meto em política.

 

O programa do PSD já existe mas passa em canal codificado.

 

Seria bom termos vários programas disponíveis para podermos fazer zapping.

 

O PSD vai a banhos em Agosto antes de apresentar o programa em Setembro. Já o programa do PS é um típico programa de Verão.

 

O programa do PS parece uma sequela cinematográfica: mesmo actor principal, guião retocado para encaixar os desejos dos espectadores. Não sei é como é que o filme vai conseguir manter a tradição das sequelas serem piores que o original.

 

Por uma questão de guerra de audiências, espero que o programa do PS tenha episódios suficientes para durar até Setembro. Avaliando pelo passado, não deve haver problemas.

 

Só escrevinhei isto porque a programação não estava a ser brilhante. O que é natural quando o único programa disponível é o do PS.

 

E agora desculpem-me mas vou para a cama tentar não fazer duzentos euros.



publicado por José António Abreu às 23:20
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Quarta-feira, 29 de Julho de 2009
Centenas de cavalos silenciosos

E que tal um post de que o nosso Primeiro-Ministro, ainda fresquinho do acordo com a Renault - Nissan para a instalação de uma fábrica de baterias para carros eléctricos em Portugal, teria orgulho? Em Berlim, no fim-de-semana do concerto dos U2, mostrava-se o Tesla Roadster na zona da Potsdamer Platz. Havia mesmo uns quantos felizardos com direito a experimentá-lo. (Não, nada de políticos; olhem com mais atenção e verificarão que não é Angela Merkel quem está dentro do carro mas uma menina a quem debalde enderecei o meu melhor sorriso na tentativa de ganhar um drive-test.) Para alguém como eu, apaixonado por automóveis desde miúdo, os veículos eléctricos, e especialmente os desportivos, são uma espécie estranha. O Tesla tem linhas compactas e simpáticas, acelera de zero a cem em 3,9 segundos (poucos Ferraris o fazem) mas não ouvi-lo arrancar (escuta-se apenas um ligeiro silvo) foi uma experiência estranha. Um desportivo que não ronrona é como o louro de carapinha do velho anúncio do restaurador Olex: pouco natural. Boa parte do prazer de quem o vê passar (e, suponho, de quem o conduz) ausenta-se em parte incerta. Parece-me assim como ter sexo tão safe, tão safe que, além do preservativo, também se usa máscara anti-gripe e luvas de borracha. E não se pode gemer nem gritar. Mas o futuro é implacável e o futuro dos automóveis, mesmo dos desportivos, é muito capaz de ser eléctrico. Nisto, Sócrates pode ter razão. (Admiti-lo não custou tanto como receava.) Suponho portanto que vou ter que me habituar ao Tesla. Ainda assim, espero que os californianos que o fabricam sejam suficientemente previdentes para fornecerem (sendo um desportivo, de série) a possibilidade do sistema áudio do carro poder emitir, em coordenação com os actos do condutor, o som de um verdadeiro motor em funcionamento. Caso contrário, na (improvável) hipótese de algum dia ter um, vou ter que gritar "vruumm vrrrummmm" enquanto conduzo.

 

 



publicado por José António Abreu às 21:49
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Terça-feira, 28 de Julho de 2009
Em defesa do blogger-eremita

A divertida e bastante falhada “BlogConf” (o nome lembra-me um modelo de edredão) de ontem, em que vinte bloggers puderam questionar o nosso Primeiro-Ministro sobre o que bem entenderam, mostrou que há grandes vantagens em que nerds permaneçam nerds, afastados de contacto humano directo. Repare-se que mesmo bloggers insuspeitos de nutrirem simpatias pelo nosso querido PM (ou mesmo pelo querido Querido, que serviu de moderador e ajudou a preparar o flop) saíram da “BlogConf” (ou talvez um sistema de suspensão pneumática) pelo menos um bocadinho enamorados do mais famoso licenciado português e cheios de remorsos por não terem conseguido fazê-lo espalhar-se ao comprido (os simpatizantes saíram irritados pelo flop se sobrepor ao brilhantismo intelectual do esbelto líder). Sejamos honestos: a proximidade faz mal. Embota a agressividade. Não por acaso, três dos melhores e mais agressivos escritores americanos ainda vivos (Salinger, Pynchon, McCarthy) raramente colocam o nariz de fora (eu sei que McCarthy foi à Oprah e aos Óscares mas, como não publicou depois disso, ainda é impossível avaliar se estar sob os holofotes lhe fez mal). Para um blogger político, é fatal. Ele não está preparado para enfrentar as pessoas sobre quem escreve. Na verdade, ele não está preparado para enfrentar quaisquer pessoas. Obrigá-lo a sair de casa dá nisto. Ainda por cima é inútil: ninguém muda de posição nestes debates. Quando muito pensa-se “filho da mãe, entalaste-me” e entra-se em rodopio mental na busca de um argumento capaz de estilhaçar o que foi usado no ataque. Para que servem estas "BlogConfs" (um sapo com tosse?), então? Para três coisas: aumentam a auto-estima dos bloggers participantes que se vêem subitamente no que parecem ser as altas esferas (alguns são mesmo convidados a entrar), permitem que o governo avalie os adversários cara-a-cara e entretêm quem, como eu, se encontra sozinho em casa em frente de um computador, com a agressividade intacta. Onde e como eles todos também deviam estar.

 

(Se calhar isto podia descrever-se de outra forma, bem mais sintética: foi uma espécie de jogo da selecção nacional de futebol. Montanhas de potencial mas chega a hora e o árbitro está comprado, os jogadores sem garra e a assistência é composta por treinadores de bancada.)



publicado por José António Abreu às 20:39
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Segunda-feira, 27 de Julho de 2009
Prontos para um programa eleitoral honesto?

A estratégia actual do Partido Socialista para lidar com os partidos à sua direita é clara: classificá-los como económica e socialmente retrógrados, encostá-los ao “papão” do neoliberalismo e acusá-los de não possuírem ideias para o futuro. Para fazer passar a primeira parte da mensagem não há pejo em usar a táctica que o PS criticava ao PSD e ao CDS em 2005 quando estes partidos chamavam a atenção para os governos Guterres (agora mencionam-se os de Durão Barroso e Santana Lopes) e em utilizar o mesmo discurso visionário sustentado no vazio mais absoluto (pode substituir-se por “convicções”) que Sócrates já empregava há dez anos quando se referia ao Euro 2004 (ver aqui). A questão do “neoliberalismo” é um chavão oco: nunca houve liberalismo em Portugal, quanto mais neoliberalismo, e ainda há dois anos o próprio PS poderia ser acusado do que o termo parece significar por cá. Já o PS actual é, como sabemos, “social”. A última parte é mais insidiosa e adquire actualmente forma no clamor pela apresentação de um programa eleitoral por parte do PSD. (O PS é nisto ecoado por alguns comentadores presumivelmente de direita.) O que leva os socialistas a exigir o programa é o mesmo que faz os sociais-democratas hesitar: em ambos os partidos se pensa que os portugueses não têm coragem para encarar a realidade. Mas isto tem consequências distintas para PS e PSD. O PS não está manietado nem por esse medo nem pela própria realidade. Distribui dinheiro (é o governo que o faz mas, como Elisa Ferreira nos disse há meses, “o dinheiro é do PS”) e promete o que bem entende. Fá-lo impunemente porque Sócrates pode empolar ou mesmo mentir – já todos sabemos que o faz. A “política de verdade” do PSD, sendo a muitos níveis uma aposta correctíssima, apresenta uma fragilidade: quem se coloca na posição de dizer a verdade não pode empolar ou mentir. Mas dizer a verdade toda (o que pode ser – e provavelmente será, considerando o endividamento e a vertiginosa derrapagem actual das contas públicas – necessário fazer depois das eleições) pode assustar. Até hoje, os eleitores sempre demonstraram preferir declarações grandiloquentes (exemplo de 2005: “150 000 novos empregos”) a banhos de realidade. É isto inevitável? Lembro-me de em 2007 assistir a um debate entre Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal. Royal – elegante, polida, radiosa – usou a táctica habitual da esquerda: acusou Sarkozy de querer acabar com os direitos sociais, de querer forçar os trabalhadores a trabalhar mais, de querer introduzir uma qualquer espécie de liberalismo. Sarkozy, para minha surpresa, foi claro em muitos pontos: assumiu que defendia o regresso à semana de 35 horas, assumiu que eram necessárias mudanças e que estas teriam custos. Ao mesmo tempo, fez Royal parecer vazia, sem ideias concretas. Como todos sabemos, apesar da vantagem ter sido pequena, Sarkozy ganhou as eleições. Seria possível Manuela Ferreira Leite fazê-lo em Portugal? Pessoas como Medina Carreira acham que sim. Que os portugueses estão preparados para um discurso de verdade e rigor. Gostaria de pensar o mesmo. O PSD poderia então apresentar um programa eleitoral inteiramente honesto. Mas, quando a extrema-esquerda acabou de obter mais de vinte por cento dos votos nas eleições europeias, sou forçado a duvidar.

 

Adenda: a respeito da aversão ao risco dos portugueses é favor ler este post n'O Insurgente, onde Bruno Alves avança uma excelente teoria sobre o assunto.



publicado por José António Abreu às 19:52
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Quinta-feira, 23 de Julho de 2009
A eterna espera

José Sócrates declarou ontem, no que deve ser português técnico, que ainda está para nascer um Primeiro-Ministro que "tenha feito melhor no défice" que ele. Vamos supor que queria dizer que ainda está para nascer um Primeiro-Ministro que "faça melhor no défice" (como o Portugal Diário misericordiamente assumiu), o que, não sendo muito claro (o que é "fazer melhor no défice?"), pelo menos não mistura futuro com passado. Sendo assim, fantástico! (Ou porreiro, pá.) Já não nos bastava continuarmos à espera do D. Sebastião, vamos ter que aguardar no mínimo umas dezenas de anos por um Primeiro-Ministro decente.

 

(O que vale é que Sócrates raramente tem razão.)



publicado por José António Abreu às 22:11
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Quarta-feira, 22 de Julho de 2009
Parque pago

Considero o parque da cidade do Porto um pequeno milagre. Escrevi-o aqui. Quando saiu da Câmara, Nuno Cardoso legou a Rui Rio uma situação armadilhada. Por um lado, Rio encontrou direitos de construção numa das frentes do parque cedidos a privados. (A cedência foi assinada por Cardoso nos últimos dias do mandato, o que levanta a eterna questão "onde é que já vimos este filme?") Por outro, Rio prometera durante a campanha não deixar construir no parque. Cumpriu a promessa e, em troca, obteve uma longuíssima batalha jurídica, com custos ainda não totalmente contabilizados. Hoje, Elisa Ferreira atacou-o pela opção feita. Na minha opinião, é um erro e um acto de descaramento. Os portuenses sabem que quem criou a situação foi o PS de Elisa (e deixemo-nos dos eufemismos da "independência" da candidatura; uma senhora que se fez eleger para o Parlamento Europeu e é candidata à presidência da segunda mais importante Câmara do país, sempre pelo mesmo partido e com tanta gente possuidora de cartão de mão estendida, é do menos independente que pode haver). Sabem também que Rio pode ter um estilo rebarbativo que nem sempre o leva aos melhores resultados da forma mais rápida possível mas é honesto e está a procurar cumprir a palavra. Mais importante, visitam o parque da cidade e percebem que defendê-lo é um dever colectivo. Mesmo que algumas críticas de Elisa possam ser, pelo menos em parte, verdadeiras, tudo empalidece perante estes factos. E afinal, que solução preconiza Elisa? Permitir a construção? Que o afirme claramente. Deve assegurar pelo menos os votos dos promotores imobiliários e dos construtores civis.



publicado por José António Abreu às 18:46
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Terça-feira, 21 de Julho de 2009
Síndrome de Estocolmo

Pensei primeiro num clube. Uma espécie de clube do Bolinha com o lema “direitista não entra” em vez de “menina não entra”. Um clube para socratistas convictos. Depois percebi que, mesmo sendo “simplex”, não é assim tão simples. Que essa seria uma visão superficial. Há um receio de orfandade na coisa. Quatro anos e meio sob o jugo mais ou menos autocrático, mais ou menos visionário, quase sempre simplista (cá anda o termo outra vez) e sempre, sempre estridente do mais-ou-menos licenciado em engenharia José Sócrates deixam sequelas. Alguns combatem, rejeitando a incultura, a arrogância, a manipulação do senhor (por enquanto, ainda com minúscula) e dos seus acólitos, dispersos por Estado e arredores. Outros apaixonam-se e, como sucede em todas as paixões, tudo o resto empalidece. O mundo começa e acaba no amado porque só ele é perfeito e infalível. Se calhar também podia ter dado a este post o título “o harém de Sócrates”. Mas não quero ser indelicado. Respeito (e até admiro) alguns dos presentes e há ausências que o impedem.



publicado por José António Abreu às 13:39
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Segunda-feira, 20 de Julho de 2009
Brinde à Lua

Sou péssimo em evocações. Ainda por cima, para responder a esta pergunta, no dia 20 de Julho de 1969 tinha menos de um ano de vida. Para mim, a chegada do Homem à Lua foi certamente muito menos relevante que as primeiras tentativas que terei feito por essa altura (talvez uns meses mais tarde) para me equilibrar nas duas pernas. Não me lembro de ver aqueles dois humanos pisando pela primeira vez um planeta que não a Terra, em passos tão lentos e hesitantes como os meus devem ter sido. Ou melhor, lembro-me mas já haviam passado anos. Olhe-se para os carros que circulavam na altura, pense-se num mundo sem telemóveis (os telefones eram pretos, enormes e a marcação era por disco) ou computadores pessoais (na realidade, sem calculadoras de bolso, que apenas surgiriam em 1970) e pondere-se o feito. Mas enfim, como disse não tenho jeito para evocações. Outros as farão das várias formas de que julgarem ser o dia merecedor (assim ou assim, mas também assim). Da minha parte, fica apenas um brinde. A um acto político e científico. E à maluquice humana.

 


 

(A publicidade é não intencional e - infelizmente - não remunerada.)



publicado por José António Abreu às 13:29
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Quarta-feira, 15 de Julho de 2009
Movimento "Cidadãos por uma Lisboa Socialista"

Helena Roseta cedeu. O movimento "Cidadãos por Lisboa", que lidera, concorre às eleições para a Câmara de Lisboa integrado nas listas do PS. Esta coisa dos movimentos de cidadãos tem alguma lógica. Mas não quando as suas convicções são tão firmes (ou tão distintas) que rapidamente aceitam a integração num dos principais partidos em troca do proverbial prato de lentilhas. A ideia que ficou é que nas últimas horas Roseta e Costa andaram a discutir assuntos tão fundamentais como o lugar em que ela concorreria (segundo), se substituiria ou não Costa em caso de impedimento deste (a resposta é não), quantos elementos do movimento estariam em lugares elegíveis (dois, num total de quatro que integrarão as listas). Políticas para a cidade? Não ouvi nada. Aliás, não sei mesmo quais as diferenças fundamentais entre Costa e Roseta, pelo que esta coligação é capaz de fazer sentido. O movimento "Cidadãos por Lisboa" é que talvez não. Ah, esperem, vão concorrer autonomamente a algumas freguesias porque, segundo Roseta, é aí, no nível mais próximo dos cidadãos, que o movimento mais tem razão de ser. Suponho que ela ainda não leu a opinião da Maria Filomena Mónica sobre as Juntas de Freguesia (just for the record, eu também não sei quem é o presidente da minha). Assim como assim, Costa está de parabéns. Depois do "Zé", a Helena. Paulatinamente, está a aglutinar à sua volta todos os valorosos espíritos "independentes" que a cidade de Lisboa tem para oferecer. Com jeitinho, ainda vai buscar a Maria José Nogueira Pinto só para entalar o Santana e o Portas...



publicado por José António Abreu às 17:52
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Segunda-feira, 13 de Julho de 2009
Os mesmos erros?

Arrancam hoje as candidaturas ao ensino superior. Há mais 1100 vagas que no ano passado e mais 5000 que há cinco anos. Ouvi o Primeiro-Ministro referi-lo com orgulho no noticiário da TSF. Disse algo do género: "Esta é a melhor prova da evolução do país." Não é. Não é sequer necessariamente um factor positivo. Os governos de Cavaco Silva são hoje criticados por terem apostado mais na quantidade de vagas disponíveis nas universidades que na qualidade dos cursos nelas ministrados. Cavaco já reconheceu algum exagero, justificando a opção com a baixa percentagem de alunos que na altura atingia a universidade e com a necessidade de agir rapidamente. Hoje a situação é diferente. Há milhares de licenciados à procura de emprego ou com empregos que nada têm a ver com o curso tirado. Tivemos tempo para aprender com os erros do passado. Nas obras públicas não o fizemos. Tê-lo-emos feito no ensino superior?



publicado por José António Abreu às 08:36
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Domingo, 12 de Julho de 2009
A independência de Elisa e a inteligência do PS

À partida, a escolha de Elisa Ferreira para candidata à Câmara Municipal do Porto nem era má. Portuense, com imagem de seriedade, de independência de espírito (que os portuenses apreciam), e de alguma competência executória (vá-se lá saber porquê, e com excepção do actual que ninguém conhece, os Ministros do Ambiente tendem a ficar com boa imagem), Elisa também não é vista como demasiado intelectual, o que, para os prosaicos portuenses, só podia ser positivo.

 
Estas características eram adequadas para combater um Rui Rio aparentemente impoluto (nem o PS nem outras “forças” da cidade alguma vez conseguiram descobrir uma brecha na sua imagem de honestidade) mas que continua a manter fortes opositores nos sectores culturais e futebolísticos da cidade, que tem tiques de autoritarismo (que os portuenses, como os portugueses, parecem apreciar) e cujo segundo mandato foi parco em resultados visíveis.
 
O lançamento da candidatura foi feito com pompa e circunstância e incluiu um José Sócrates laudatório (ele que abomina Elisa desde os tempos em que foi secretário de Estado dela) e um Carlos Magno (essa reserva da moral jornalística nacional) armado a estratega. Foi quase o único momento em que tudo pareceu correr bem. A famosa declaração “o dinheiro é do PS” acabou cedo com a imagem de seriedade. Elisa, que reclama agora insistentemente o seu estatuto de “independente”, mostrou aí quão independente – pelo menos de espírito – é.
 
Depois chegou a questão da acumulação das candidaturas ao parlamento europeu e à Câmara. Vou escrevê-lo a bold para memória futura, uma vez que, mesmo após tantas provas de que os resultados são maus, o erro continua a ser cometido: os portuenses não suportam sentir-se a segunda escolha. Não gostam que quem lhes pede o voto o faça tão convictamente que tenha tratado de proteger a retaguarda com um cargo principescamente remunerado. Nem que quem lhes pede o voto os abandone à primeira oferta de um cargo melhor. Fernando Gomes aprendeu-o há anos, o PS parece que ainda não.
 
Elisa Ferreira nunca se livraria deste estigma mas a recente decisão socialista (correcta mas tardia e oportunista) de impedir a acumulação de candidaturas à Assembleia da República e a órgãos autárquicos veio tornar as coisas ainda mais difíceis para ela, ao chamar de novo a atenção para a sua duplicidade (e para a de Ana Gomes). Saíram também as primeiras sondagens, catastróficas. A concelhia do Porto do PS apressou-se a instá-la a desistir, numa demonstração de falta de unidade interna que – nunca aprendem – só piora as coisas. Admitamos que Elisa abandonava. A três meses das eleições, quem iria o PS buscar para contrapor a Rio? Segundo o JN (jornal que ataca Rio há anos e onde Elisa escreve uma coluna propagandística aos domingos), dois nomes encontravam-se em cima da mesa da concelhia: Manuel Pizarro, actual Secretário de Estado da Saúde, e Nuno Cardoso. O primeiro é quase desconhecido e, sensatamente, terá recusado de imediato. O segundo é um desastre ambulante, ligado à polémica autorização de construção nos terrenos do parque da cidade e à confusão (evitemos termos demasiado fortes) em torno das permutas de terrenos com o FCP antes da construção do novo estádio, recentemente condenado por favorecer o Boavista enquanto era Presidente da Câmara. Revelador da capacidade de renovação e de preocupação com a comunidade que floresce nas estruturas partidárias locais, não?
 
O melhor que o PS tem a fazer – e parece que Sócrates o entendeu – é aguentar estoicamente. As eleições estão perdidas. Aprendam com os erros, se tiverem capacidade para o fazer, e tentem fazer melhor da próxima vez. Se calhar não era má ideia correr com as pessoas que mandam na concelhia. Mas isto é só uma sugestão e provavelmente nada fácil de pôr em prática.
 
Adenda (segunda-feira, 13 de Julho): Sócrates dá raspanete à concelhia. Aleluia!


publicado por José António Abreu às 15:59
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Cerimónias de inauguração sem o mesmo brilho

Acabo de ver num noticiário televisivo (já não sei se da SIC-N se da RTP-N) uma longa reportagem sobre o estado de conservação de várias pontes na zona da barragem da Aguieira. Aparentemente, necessitam de urgentes obras de reparação. Numa altura em que se vão construir mais 1200 km de auto-estradas, um gigantesco aeroporto e duas caríssimas linhas de TGV, o que existe vai-se degradando. Se o investimento público é necessário, não seria preferível reparar e melhorar o que já existe? Claro que não e todos sabemos porquê: a mentalidade nacional premeia quem "faz obra", não quem cuida da existente.



publicado por José António Abreu às 12:24
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Sábado, 11 de Julho de 2009
O navio

Pode ser uma injustiça colocar as coisas nos termos em que o vou fazer no final deste post. António Costa sempre me pareceu um homem razoavelmente ponderado, longe do estilo histérico-acéfalo de outros socialistas durante estes quatro anos e meio de poder absoluto do PS. Ainda assim, as críticas recentes ao governo, reiteradas (por palavras e silêncios) na entrevista de hoje ao jornal i, surgem como tardias e oportunísticas. Enquanto Sócrates pareceu imbatível, tudo era perfeito ou, pelo menos, todas as queixas eram caladas. Só me ocorre dizer que  o navio socialista dá sinais de meter água e que os primeiros tripulantes começam a tentar abandoná-lo.



publicado por José António Abreu às 12:55
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Sexta-feira, 10 de Julho de 2009
Insegurança e injustiça

O Procurador da República alerta para a redução de liberdades individuais em nome da segurança. O aviso poderá ser visto como algo exagerado, uma vez que, de acordo com um estudo da Privacy International, uma entidade independente, Portugal tem um nível de protecção da privacidade "enfraquecido" mas mantém salvaguardas razoáveis, uma situação que, não sendo brilhante, é melhor que a de muitos outros países da UE (e em especial do Reino Unido, classificado ao nível de países como os Estados Unidos, a Rússia e a China). É curioso notar como, na Europa, muitos países que passaram recentemente por sistemas ditatoriais tendem (por enquanto) a apresentar um melhor nível de salvaguardas. (Há excepções notórias, como a Espanha).

 

Mas, apesar do ranking (referente a 2007) ainda não nos posicionar muito mal, o aviso de Pinto Monteiro tem razão de ser por (como diria o Eng. Ângelo Correia) três ordens de razão: a tendência é também por cá para o Estado aumentar as formas de intrusão na esfera privada dos cidadãos; as salvaguardas existem na lei mas, porque o nosso sistema judicial é mau, nem sempre na prática; e é antes da situação atingir níveis verdadeiramente preocupantes que os principais intervenientes no sistema devem falar.

 

Pinto Monteiro centra a questão na segurança. Como penso já ter deixado pelo menos implícito aqui e aqui, julgo que a tendência para a imposição (por parte dos governos) e aceitação (por parte do público) destas medidas vai para além das questões da segurança. Estas são sem dúvida importantes e a maior parte das pessoas, vendo notícias consecutivas sobre assaltos violentos ou baleamento de polícias (o terrorismo perdeu parte da carga ameaçadora que, pelo menos em alguns países, chegou a ter), tende a aceitar o aumento de medidas de segurança 'intrusivas', convencidas de que nunca serão afectadas por elas. Mas penso que a questão vai mais longe. Para além da sensação de insegurança, uma outra, de injustiça, tem vindo a impregnar a sociedade portuguesa (e admito que outras). A injustiça (parte real, parte percepção) de sentir que se é cada vez mais pressionado enquanto outros passam incólumes por todas as dificuldades. Afinal, o emprego só parece estar em risco para alguns. As reformas de certas pessoas permanecem obscenamente elevadas enquanto as da maioria caem. Os lucros de algumas empresas continuam astronómicos e os seus gestores e accionistas ganham milhões de euros por ano enquanto a maioria tem problemas para pagar o empréstimo da casa. Uma imensidão de pessoas recebe subsídios para nada fazer enquanto os restantes têm que trabalhar. Esta percepção (que, sendo justa, injusta ou apenas simplista, existe) cria um desejo de vingança sobre os que são vistos como privilegiados (não apenas os ricos mas todos os que parecem não fazer o suficiente para justificar aquilo que têm). Na opção de mentalidade expressa pela velha história dos dois jardineiros que vêem passar o patrão num Roll-Royce, dizendo um para si mesmo que ainda um dia há-de acabar com aqueles privilégios e o outro que ainda um dia há-de ter um carro como aquele, estamos claramente ao lado do primeiro porque já desistimos de ter esperanças que o nosso mérito (que nos parece inegável) seja convenientemente recompensado. Vigie-se e fiscalize-se toda a gente, pois então. No que nos diz respeito, é irrelevante: afinal, já somos controlados ao chegar e ao sair do emprego, já temos o acesso à internet monitorizado (ou bloqueado) pela empresa em que trabalhamos, já estamos sob vigilância nos shoppings, já nos sentimos sob vigilância nas estradas. Mais: já estamos, indefesos, expostos a todos os abusos das autoridades. E, no fim de contas, nada fizemos de mal. Se a redução das liberdades individuais levar a que possam ser apanhados os verdadeiros criminosos, óptimo. Claro que depois de os apanhar torna-se necessário puni-los. E aqui nasce a segunda parte do problema: o Estado, através do sistema judicial, não consegue fazê-lo.  Diz-nos então que precisa de mais meios de vigilância para arranjar melhores provas e nós, cada vez mais desesperados e mesmo acreditando cada vez menos na possibilidade das coisas mudarem, aceitamos.

 

A solução? Uma economia a crescer para reduzir as tensões sociais. Políticas sociais cirúrgicas e justas. Um sistema judicial a funcionar. Toda a gente conhece a solução. A questão é como lá chegar.



publicado por José António Abreu às 12:47
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Quinta-feira, 9 de Julho de 2009
Não sei se o Condestável aprovaria...

Esta notícia do i sobre o "I Salão Erótico Medieval" que parece estar a decorrer desde hoje em Vila Nova de Gaia levanta (é uma forma de expressão) tantas questões que nem sei por onde começar.

 

Pelo conceito, talvez. "Na época medieval existia uma forte componente erótica", assegura o organizador. “As senhoras da nobreza demoravam quatro horas para se vestir e precisavam da ajuda de aias para colocar os corpetes para evidenciar os seios.” Está-se sempre a aprender. O tempo que as mulheres levam a arranjar-se, que para uns é um pesadelo, para outros é uma fonte de erotismo. Mas será que os organizadores esperam enchentes desejosas de ver mulheres vestindo-se? Nos filmes (a minha única fonte de informação sobre o assunto) os shows eróticos têm normalmente mulheres despindo-se. Lutas na lama protagonizadas por bailarinas exóticas, saltimbancos que recriam contos eróticos e striptease a cavalo são alguns dos espectáculos a que vai ser possível assistir. Ah, OK, assim já faz striptease a cavalo?!

 

Não consigo imaginar a coisa sem quedas potencialmente perigosas. Enfim, há ainda a acrobata erótica Sónia Baby, uma outra estrela chamada Lesly Kiss, um museu de tortura medieval (hmmm, as possibilidades da roda, ainda por cima com uma acrobata por perto), lutas de varapaus (penso que não é uma forma de expressão) e cuspidores de fogo. Tudo isto decorre onde? No Cais de Gaia? Na praça em frente ao El Corte Inglés? Não. No parque de estacionamento do restaurante erótico The Lingerie. O guia Michelin tem tantas falhas...

 

Sejamos honestos: mesquinhas considerações puritanas à parte, são de louvar iniciativas que, nesta época de crise, tentam levantar (é uma forma de expressão) a moral às pessoas. É também de louvar o esforço dos organizadores para atrair o público feminino, através de redução de preços e da garantia, dada pelo organizador, que "Portugal tem os melhores strippers masculinos da Europa". E ainda dizemos mal do país. Se calhar, para além de artistas da bola, podíamos exportar... outro género de artistas. Já agora, como é que isso é avaliado e quem avalia? “Participamos regularmente em campeonatos de strip dance e somos bons, realmente."  Ah.

 

Como nota final, é da mais elementar justiça salientar a vitalidade cultural de Gaia sob a presidência de Luís Filipe Menezes, por oposição ao imobilismo do Porto. Engole esta (é uma forma de expressão), Rui Rio.

 

P.S.: a foto que o i escolheu para ilustrar a notícia também é fantástica. É tão artsy que podia estar pendurada nas paredes alvas de Serralves. Nada tem de medieval ou de particularmente badalhoco e admitam: uma notícia como esta merecia imagens badalhocas.



publicado por José António Abreu às 19:12
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Quarta-feira, 8 de Julho de 2009
Não será antes do Magalhães?

A ministra da Educação culpa a comunicação social pela descida nos resultados dos exames de matemática. Diz ela que a comunicação social transmitiu uma imagem de facilidade e que, por isso, os estudantes não estudaram, levantando-se a dúvida ontológica (se isto fosse um exame, eu explicava o que quer dizer) de saber se estudantes que não estudam podem ainda ser considerados estudantes. Eu acho que não. Chamem-lhes outra coisa qualquer e excluam-nos das estatísticas. Os resultados melhorariam de imediato e a ministra poderia novamente sorrir e dizer que tudo se deve ao excelente trabalho do ministério. Quanto à comunicação social, e por muito que defendamos métodos pedagógicos avançados, devia levar dez reguadas (posso sugerir o seu representante?) e ser mandada para o canto, de onde apenas poderia sair depois de 27 de Setembro.



publicado por José António Abreu às 08:43
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Terça-feira, 7 de Julho de 2009
Grupo do Gambrinus?

Maria Filomena Mónica deu uma entrevista ao jornal i. Fala de Eça, ataca os catedráticos Queirosianos, refere problemas com a família, faz autocrítica, diz que está cansada de ter raiva, menciona "essas coisas da carne", chama “rapaz da província” a Sócrates. Concorde-se ou não com as suas opiniões, Filomena Mónica é das poucas personalidades portuguesas com verdadeira coragem para dizer o que pensa. Acerca do país, dos portugueses, dela própria. Haverá mais meia dúzia, e talvez seja significativo que nelas se incluam dois dos homens fundamentais na vida de Filomena Mónica: Vasco Pulido Valente e António Barreto. Tão inteligentes e desassombrados quanto ela (leia-se a entrevista de Pulido Valente na revista Ler deste mês para comprovar). Lembram-me, totalmente a despropósito (ou com o simples a-propósito de marcarem uma época e de representarem uma Lisboa cosmopolita e não acomodada – e sim, eu sei que Barreto nasceu no Porto), entidades como o Bloomsbury Group. No futuro, talvez fosse de lhes arranjar uma designação: o “grupo do Gambrinus” podia servir mas não estou certo de que todos o frequentem.



publicado por José António Abreu às 08:40
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Segunda-feira, 6 de Julho de 2009
O presidente mudo

Cavaco Silva passou a estar sob fogo. As declarações acerca do acto do ex-Ministro Manuel Pinho geraram todo um manancial de críticas (p. ex., aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) a que Tiago Moreira Ramalho responde (bem) aqui. Mas este foi pouco mais que um fait-divers. Na realidade, as críticas ao presidente, vindas por vezes (como abordei aqui), do topo da intelligentsia do Partido Socialista, têm aumentado em número e em tom. Parte delas nascerá do desespero dos socialistas, sentindo-se prestes a perder as eleições legislativas e tendo já quase garantidamente deixado esfumar a hipótese de nova maioria absoluta. Ainda assim, quem critica Cavaco devia lembrar-se que, mesmo com uma Constituição altamente limitadora dos seus poderes, o presidente não é um espectador mas um actor político com opiniões. Que, como se verá, todos os presidentes anteriores fizeram questão de expressar com frequência.

 
Cavaco Silva foi eleito em Janeiro de 2006, estava o governo do PS em funções há cerca de nove meses. Durante a campanha foi notório que Cavaco não discordava de muitas medidas já anunciadas pelo governo: reformas da função pública, da educação, da saúde ou da segurança social, esforços para controlo do défice, política europeia, até mesmo uma certa ideia de estilo governativo (em 2005 e 2006 Sócrates era admirado por quase todos por conseguir manter os membros do governo calados e por gerir os anúncios de forma brilhante). Por ter opinião positiva do governo, Cavaco entendeu-se bem com ele durante os primeiros anos. Relembre-se quão frequentemente foi dito e escrito que Cavaco via com bons olhos a acção da ministra da Educação ou do ministro da Saúde. Aliás, muitos socialistas que, durante a campanha eleitoral, haviam prognosticado um estado de conflito permanente, reconheciam nesta fase que PS e governo não tinham razões de queixa do Presidente (p. ex., Jorge Coelho na Quadratura do Círculo desses tempos). Entretanto a situação alterou-se. O PS assaltou o Estado. Colocou os famosos boys que Guterres, em 1995, pedira que fossem mantidos afastados, por todo o lado, com as consequências conhecidas: perseguições a professores, a sindicatos, à comunicação social. Ao mesmo tempo, a concretização das medidas anunciadas (uma, mais outra, e ainda mais outra vez) ia-se arrastando (excepção para a reforma da segurança social que, concorde-se ou não com os princípios que a nortearam, foi levada a cabo rapidamente). E quando os protestos surgiram em força (como surgiriam, atendendo à estratégia de diabolizar e atacar indiscriminadamente toda a gente dentro das várias corporações) entrou-se primeiro numa fase de autismo e depois na mais pura confusão. Resultado? Falhanço na reforma educativa, com ponto alto no Kafkiano sistema de avaliação dos professores. Resultados mitigados na reforma do sistema de saúde que, no auge da contestação, obrigou à imolação do ministro. Paralisação do sistema judicial. Confusão total nas obras públicas, resultado da insistência em projectos megalómanos e em escolhas que rapidamente se revelaram erradas (“margem sul jamais”). Uso da máquina fiscal (cujo aumento da eficiência é positivo mas, em grande medida, não foi fruto de trabalho deste governo) para perseguir contribuintes, mantendo o Estado o hábito de não pagar a quem deve. Estou certamente a esquecer-me de inúmeros pontos mas estes bastam como exemplo. Até porque ainda é preciso realçar outro factor: o estado de graça, que durou mais de dois anos, extinguiu-se (como seria de esperar mas, aparentemente, para grande surpresa e ultraje do PS e de Sócrates) com a revelação de que o Primeiro-Ministro acabara a licenciatura ao domingo e fizera exames de “inglês técnico” por fax, que assinara horríveis projectos que não projectara, e que poderia estar ligado a um caso grave de corrupção (licenciamento do Freeport). Os histéricos ataques aos órgãos de comunicação social que noticiavam estes assuntos, com processos judiciais quase burlescos a comentadores que faziam comparações irónicas envolvendo Cicciolina e acusações desembestadas a noticiários televisivos, não ajudaram.
 
Perante tudo isto, devia Cavaco Silva permanecer em silêncio? Mesmo considerando ele, como todos estamos conscientes que considera, que a política anunciada, em particular ao nível das obras públicas, é negativa para o futuro do país? Devia abster-se de intervir, em nome de uma cooperação à qual Governo e PS testaram os limites várias vezes ao longo do último ano (estatuto político dos Açores, lei do divórcio, lei da concentração dos meios de comunicação social)?
Recordem-se os anteriores presidentes do Portugal "normalizado". Eanes teve uma intervenção tão directa na política governamental que chegou a nomear governos sem apoio parlamentar e acabou a criar um partido político. Sei que os tempos eram outros e também penso que, em particular neste último ponto, Eanes não foi exemplo que alguém deseje de volta, mas aconteceu. Soares criticou abundantemente Cavaco, com frequência de forma maquiavélica (mas, reconheça-se, com panache irresistível): basta lembrarem-se as “presidências abertas” e os jantares quase conspirativos. (Ainda assim, talvez hoje Cavaco lamente não ter considerado seriamente uma ou outra crítica.) Sampaio teve a famosa frase “há vida para além do orçamento” num momento em que o governo de Durão Barroso tentava desesperadamente controlar o défice. (Não o ouvi dizer o mesmo quando o governo Sócrates implementou medidas parecidas um par de anos mais tarde.) E foi também o presidente que deu posse a um governo avisando-o de que o ia manter sob vigilância especial e que, meses depois, o fez cair dissolvendo uma Assembleia da República onde continuava a existir uma maioria que o suportava: uma decisão bombástica mas, diga-se, perfeitamente legítima, tomada em nome do que ele entendia ser o interesse nacional (teorias conspirativas à parte).
 
A análise do passado pode mesmo providenciar alguma validação da tese de que é positivo existir um certo nível de discordância entre Belém e S. Bento, vulgarmente expressa na frase “os portugueses não gostam de colocar todos os ovos no mesmo cesto”. Os anos de concordância ideológica (governos Guterres) foram anos de “preguiça” institucional que nos empurraram para a crise estrutural em que estamos mergulhados. Evidentemente que a personalidade e o fraco grau de conhecimento da realidade económica dos intervenientes (Guterres e Sampaio) ajudou. Fosse Cavaco presidente nessa altura, Guterres teria sido mais pressionado a tomar as medidas que se impunham. Da mesma forma, quem entende que o governo de Santana Lopes não tinha condições para continuar a gerir o país (reconhecidamente, a maioria dos portugueses) tem que ver como positivo estar a presidência ocupada por alguém que sempre manifestara reservas quanto ao referido governo. Apenas na época de Durão Barroso a concordância ideológica poderia ter-se revelado benéfica, facilitando a aplicação das medidas indispensáveis para enfrentar a crise, numa época em que o país, saído de um período de abundância, ainda não estava disponível para “sacrifícios”.
 
Seja como for, depois de presidentes assim, e excluindo-se o pânico pré-eleitoral, são as declarações de Cavaco Silva razão para irritações de um governo maioritário ou do partido que o sustenta? Penso estar claro que a) os presidentes sempre opinaram quando acharam dever fazê-lo, e b) é perfeitamente lícito que o façam. O conceito de “presidente de todos os portugueses” é, pelo menos na forma como habitualmente surge, um logro. Nenhum presidente representa “todos os portugueses” no sentido de ter que agir como cada um deles pretende. Seria, aliás, impossível. Não pode também pretender-se que represente os portugueses que elegeram o governo acima dos que o elegeram a ele. (Seria o que aconteceria se permanecesse sempre em silêncio perante todas e quaisquer medidas do governo.) Também não é, como muitas vezes se defende, um “árbitro”. Se o papel do presidente fosse apenas arbitral, bastar-lhe-ia conhecer as regras “do jogo” (definidas na Constituição) e a ideologia seria irrelevante, pois não iria decidir em função dela. Elegê-lo seria um contra-senso. Poderia ser nomeado ou até sorteado. Um presidente é eleito depois de apresentar um conjunto de posições e de convicções e deve presidir em função delas. Obviamente, não tendo poder executivo, deverá procurar consensos com o governo e só o afrontar quando achar indispensável fazê-lo. Mas tem o direito de o fazer. Mais: tem o dever. Em função das suas próprias convicções, cada cidadão decidirá então se ele tem ou não razão. Mas não o pode criticar por falar.

 

(Fotos retiradas do site da Presidência da República.)



publicado por José António Abreu às 13:11
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Domingo, 5 de Julho de 2009
De Braga a Estrasburgo, passando por Madrid: notas de fim-de-semana

Uma pequena notícia no jornal i informava que Domingos Névoa, administrador da Bragaparques, apresentou uma queixa contra José Sá Fernandes por este, durante o processo por tentativa de corrupção no qual Névoa foi condenado, lhe ter chamado “bandido”. O vereador lisboeta foi constituído arguido e arrisca pena até dois anos e multa não inferior a 120 dias. Arrisca também, porque Névoa entende ter sofrido graves danos morais (nos dois dias seguintes à declaração de Sá Fernandes, nem foi trabalhar de tão perturbado que estava), ter que pagar uma indemnização de vinte e cinco mil euros. Se bem me lembro, Névoa foi condenado em cerca de cinco mil euros; se ganhar, não subsistem dúvidas: neste país, mesmo quando as coisas lhes correm mal, a corrupção é um negócio altamente lucrativo para os corruptores.

 

Cristiano Ronaldo deu uma longa entrevista ao jornal espanhol Marca e, como seria de esperar, os canais de televisão portugueses noticiaram abundantemente tão importante acontecimento. Foi realçado o facto de ele ser um rapaz de palavra, visto ter prometido à referida publicação, no ano passado, que teriam direito à primeira entrevista dele como jogador do Real Madrid, caso chegasse alguma vez a sê-lo. Ainda assim, o que me chamou a atenção – sacaninha como sou – foi a resposta, num daqueles questionários Proustianos que tão giros às vezes se revelam, que o livro preferido de Cristiano Ronaldo é a fotobiografia de Cristiano Ronaldo. Percebe-se: é um livro simpático, que se lê bem e tem um herói com que qualquer pessoa se identifica facilmente – mesmo uma super-estrela como Cristiano Ronaldo. Reparei também que, ao ser instado a escolher uma cidade, optou por Madrid, mas aí a gente percebe: a competição com Kaká não vai ser fácil e o tio Alberto João chatear-se-ia mais se ele respondesse “Lisboa”.

 

Elisa Ferreira garante que lutará contra todas as sondagens, sejam negativas ou sim, e que levará a sua candidatura à Câmara Municipal do Porto até ao fim: como se sabe, Estrasburgo. Diz ainda que os responsáveis do PS lhe dão "apoio suficiente". Supõe-se que já não a cumprimentam com dois beijos mas ainda lhe apertam a mão.



publicado por José António Abreu às 00:40
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Sábado, 4 de Julho de 2009
Os benfiquistas são os verdadeiros portugueses

Por ser simpatizante do Sporting e, mais importante, pouco apreciador do universo futebolístico, tinha prometido a mim mesmo não fazer comentários sobre as eleições do Benfica. Mas, aqui sentado com a televisão a mostrar-me debates onde Benfiquistas evitam criticar as manobras sujas que caracterizaram a marcação das eleições ou a necessidade de um dos candidatos votar com escolta policial, resultados eleitorais de república das bananas, vaias aos derrotados e à comunicação social, entradas triunfais do inesperadíssimo vencedor, um discurso (cuja transmissão em directo obriga à interrupção de um debate sobre o estado da Nação na SIC Notícias) em que o presidente da vetusta e heróica agremiação parece não ir chamar “garotões” aos derrotados, acusando-os apenas de falta de dignidade, tenho que admitir que o Benfica é de facto o único clube verdadeiramente representativo dos portugueses. Dos mesmos que elegem Alberto João Jardim, Fátima Felgueiras ou Valentim Loureiro. Dos mesmos que cospem ou atiram lixo para o chão. Dos mesmos que ziguezagueiam por entre o trânsito e queimam os semáforos vermelhos. Acredito agora que o Benfica tenha os famosos seis milhões de adeptos. Talvez até sete, talvez até oito. Parabéns ao Benfica. Parabéns a Portugal.



publicado por José António Abreu às 00:02
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Quarta-feira, 1 de Julho de 2009
O passado

Na questão da venda da rede fixa à PT, Manuela Ferreira Leite deveria ter apenas declarado que fez o que entendeu dever fazer, considerando as circunstâncias que já por várias vezes explicou: a necessidade de manter o défice abaixo dos 3% e a inexistência – à época – de folga temporal para o reduzir por outras vias. Poderia ter acrescentado que a decisão política até vinha do governo Guterres – mas depois de assumir o acto.

 
A questão é relativamente pouco importante, uma vez que não há indícios de corrupção e, tudo o indica, o PS teria feito o mesmo, provavelmente (di-lo Ferreira Leite) por um preço inferior. A ingerência dos governos Santana Lopes e Sócrates nos negócios da PT, alegadamente para “corrigir” linhas editoriais, é mais grave.
 

Ainda assim, o caso permite-me lembrar Sócrates e o PS em 2004 e inícios de 2005. Nessa altura eles bramavam que o que se passara durante os governos do engenheiro Guterres era irrelevante. A crise devia ser totalmente atribuída aos governos PSD/CDS. Sócrates afirmou dezenas de vezes, no seu estilo onde apenas Ana Lourenço consegue introduzir a dúvida e a humildade, que a direita culpava Guterres para esconder o seu próprio fracasso. Hoje é o PS que tenta desenterrar o passado; que, no fundo, continua a esforçar-se por demonstrar que os governos PSD/CDS foram maus. Bom, meus caros, isso não é novidade para ninguém. Mas deixem que vos diga duas coisas: o governo de Durão Barroso ocorreu durante um período de quebra económica a nível europeu e teve a oposição da comunicação social e do Presidente da República, enquanto o vosso desfrutou nos primeiros anos de alguma retoma económica e teve durante muito tempo uma comunicação social e um Presidente cooperantes; e, parafraseando-vos, o que se deve discutir em 2009 são as vossas políticas. São elas que falharam. E, por muitas trapalhadas que os governos PSD/CDS tenham feito, nenhum deles atingiu o vosso nível de arrogância e de assalto ao poder.



publicado por José António Abreu às 20:52
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