como sobreviver submerso.
Terça-feira, 8 de Setembro de 2009
Comprimidos para ser bom e fiel

A Prospect deste mês traz um artigo sobre a investigação de drogas capazes de modificar as capacidades do ser humano. Não só capacidades físicas (na linha dos esteróides e outros produtos para desportistas e body-builders) mas também mentais: drogas que nos ajudarão a esquecer acontecimentos traumáticos, que nos tornarão mais inteligentes, mais fiéis ou nos modificarão os critérios morais. Os medicamentos que prometem melhorar a memória são antigos mas os cientistas garantem que, no futuro, serão muito mais eficazes. E então, ouço perguntar, isso não é bom? Claro que sim. Não gostaria eu de me lembrar de todos os livros que li como se tivesse acabado de os ler? E não será óptimo para os pais saberem que têm à disposição um meio fácil para melhorar as capacidades dos rebentos? Como poderão, aliás, os pais recusar ministrar essas drogas aos filhos se fazê-lo lhes deixaria os filhos em desvantagem perante outras crianças com pais de espírito mais progressista? Mais complicado ainda: como assegurar a igualdade de acesso a essas drogas? Deverá o Estado fornecê-las gratuitamente nas escolas? Afinal, os Estados terão interesse em assegurar que os seus estudantes não saem menos bem preparados do sistema escolar que os estudantes dos países vizinhos. E as empresas – poderão as empresas exigir aos funcionários que os tomem, de forma a que sejam mais produtivos? Ainda assim, estes serão provavelmente os medicamentos que menos questões levantarão. Veja-se o que diz a Prospect a respeito dos que prometem aumentar o grau de fidelidade: In a 2008 paper Anders Sandberg and Julian Savulescu of Oxford’s Uehiro Centre for Practical Ethics somewhat clinically divide erotic love into three parts. After lust (seeking sexual union with any appropriate partner), comes attraction (choosing and preferring a partner), followed by attachment (staying together). Each stage is associated with a brain system that can be modulated by chemical stimuli, for example, lust by testosterone, and attachment by entactogens. If we want to encourage long-term relationships—and the empirical evidence is that they lead to health and happiness (anotem, Zezés Camarinhas deste mundo)—then must we conclude, as Sandberg and Savulescu do, that “we should use our growing knowledge of the neuroscience of love to enhance the quality of love by biological manipulation”? Not necessarily. O optimismo do articulista roça a candura mas, estando a droga disponível, é-nos assim tão difícil imaginar pessoas pedindo aos parceiros para a tomarem ou oferecendo-se para fazê-lo como prova de amor? E depois há as drogas que alteram a nossa disposição para o bem e para o mal: when subjects are given the hormone oxytocin they are more likely to hand over a larger share of their money, exhibiting greater trust that the other person will treat them fairly. Boosting oxytocin levels is not a high-tech procedure; the hormone can be delivered by nasal spray. Trust is central to our personal and business relationships, and altering trust levels could alter society in a profound way.  Enhancement is not identical to improvement. Pumping oxytocin through the air-conditioning could be used for less noble purposes: companies manipulating their consumers, politicians their voters, or predatory men their dates. Noto, ligeiramente divertido, que o autor parece assumir que as mulheres não precisam de ajudas químicas para manipular os parceiros (o que é muito provavelmente verdade) mas o que me incomoda é mesmo pensar que estamos a avançar para um admirável mundo novo em que o ser humano se emaranhará cada vez mais nos efeitos da sua fantástica criatividade. Que o levarão a conseguir debelar os efeitos de doenças degenerativas mas também lhe colocarão cada vez mais dilemas de ordem moral. Não tenho ilusões: dentro de algumas décadas, muitos seres humanos serão produtos de engenharia genética. Talvez as crianças possam ter realmente os olhos da mãe, o nariz do pai e o jeito para o futebol do Cristiano Ronaldo. E, com a ajuda de um comprimido, talvez todos possamos garantir a veracidade da declaração “amo-te”.

 

(Agora vou voltar para o jogo que tenho em pausa na Xbox 360, onde estou numa fase interessantíssima. O meu avatar já está mais forte que o incrível Hulk, consegue lançar bolas de fogo com as mãos e faltam-lhe apenas alguns créditos para poder adquirir a capacidade de controlar mentalmente os adversários.)

 

Imagem retirada daqui, onde há mais alguma informação sobre as smart drugs.



publicado por José António Abreu às 21:49
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