Em Lisboa outra vez, dei de caras com o Papa. Bom, não exactamente: digamos que, mesmo sem fazer grande esforço, vi-o passar. E deixem-me confessar (não nesse sentido) que até uma pessoa como eu, que só evita classificar-se como ateu à frente da mãe, espera algo de especial à passagem do Papa. Uma aura qualquer. Um raio de luz a acompanhar o Papamóvel (um dos Mercedes com menos piada que já vi, e eu nem gosto particularmente de Mercedes). Nada. Apenas um senhor idoso com ar de mártir agradecido, de cabelo e vestido brancos, exposto numa vitrina. Uma das coisas menos espectaculares a que já assisti, e garanto que já tive oportunidade de assistir a várias coisas pouco espectaculares na minha vida. Ainda assim, o Papa fez questão de me acenar (ou então foi para a rapariga com um belíssimo par de ancas que abanava furiosamente uma bandeirinha, ou para a senhora rechonchuda que lhe enviava beijos, ambas à minha frente, encostadas às grades) antes de desaparecer em menos de cinco segundos na curva de acesso ao Rossio. Passei a hora seguinte tentando sentir-me abençoado mas parece que sou imune a bênçãos. Dava-me mais jeito ser imune à gripe ou à cobrança de impostos.
Na verdade, achei mais piada aos preparativos. Antes, à hora da almoço, a Avenida da Liberdade sem trânsito, excepto pelos veículos prioritários passando com a urgência dos momentos cruciais, os polícias espalhados por todo o lado, com aquele ar que significa «não sabemos bem o que se passa mas deve ser grave, por isso não chateiem», tinham-me feito sentir como no cenário de um filme de acção. Ainda olhei em volta, à espera de ver o Will Smith, ou o Bruce Willis, ou o Tom Cruise correndo pela avenida abaixo. Só vi polícias, nos seus uniformes azuis. Aliás, o Benfica pode ter ganho o campeonato mas nunca vi tanto azul em Lisboa. Para além dos polícias, andavam por cá centenas de miúdos envergando t-shirts dessa cor, com a frase «Eu acredito» nas costas. Tocante, não? Pelo menos, eu achei. Especialmente depois de passar por quatro raparigas adolescentes que subiam a Avenida da Liberdade cantando alegremente «Come o Papa, Joana, come o Papa». Não cheguei a perceber qual delas era a Joana porque estavam todas igualmente divertidas. E também eram todas bastante girinhas. Ainda nos admiramos dos padres não resistirem a certas tentações...
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