como sobreviver submerso.
Terça-feira, 11 de Maio de 2010
Papa

Em Lisboa outra vez, dei de caras com o Papa. Bom, não exactamente: digamos que, mesmo sem fazer grande esforço, vi-o passar. E deixem-me confessar (não nesse sentido) que até uma pessoa como eu, que só evita classificar-se como ateu à frente da mãe, espera algo de especial à passagem do Papa. Uma aura qualquer. Um raio de luz a acompanhar o Papamóvel (um dos Mercedes com menos piada que já vi, e eu nem gosto particularmente de Mercedes). Nada. Apenas um senhor idoso com ar de mártir agradecido, de cabelo e vestido brancos, exposto numa vitrina. Uma das coisas menos espectaculares a que já assisti, e garanto que já tive oportunidade de assistir a várias coisas pouco espectaculares na minha vida. Ainda assim, o Papa fez questão de me acenar (ou então foi para a rapariga com um belíssimo par de ancas que abanava furiosamente uma bandeirinha, ou para a senhora rechonchuda que lhe enviava beijos, ambas à minha frente, encostadas às grades) antes de desaparecer em menos de cinco segundos na curva de acesso ao Rossio. Passei a hora seguinte tentando sentir-me abençoado mas parece que sou imune a bênçãos. Dava-me mais jeito ser imune à gripe ou à cobrança de impostos.

 

Na verdade, achei mais piada aos preparativos. Antes, à hora da almoço, a Avenida da Liberdade sem trânsito, excepto pelos veículos prioritários passando com a urgência dos momentos cruciais, os polícias espalhados por todo o lado, com aquele ar que significa «não sabemos bem o que se passa mas deve ser grave, por isso não chateiem», tinham-me feito sentir como no cenário de um filme de acção. Ainda olhei em volta, à espera de ver o Will Smith, ou o Bruce Willis, ou o Tom Cruise correndo pela avenida abaixo. Só vi polícias, nos seus uniformes azuis. Aliás, o Benfica pode ter ganho o campeonato mas nunca vi tanto azul em Lisboa. Para além dos polícias, andavam por cá centenas de miúdos envergando t-shirts dessa cor, com a frase «Eu acredito» nas costas. Tocante, não? Pelo menos, eu achei. Especialmente depois de passar por quatro raparigas adolescentes que subiam a Avenida da Liberdade cantando alegremente «Come o Papa, Joana, come o Papa». Não cheguei a perceber qual delas era a Joana porque estavam todas igualmente divertidas. E também eram todas bastante girinhas. Ainda nos admiramos dos padres não resistirem a certas tentações...



publicado por José António Abreu às 22:36
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4 comentários:
De Luis Carlos a 12 de Maio de 2010 às 00:11
A propósito:
http://www.youtube.com/watch?v=D1aumtHdZYw


De José António Abreu a 12 de Maio de 2010 às 22:18
Ainda não tinha visto este vídeo, Luís. Obrigado. Suponho que era inevitável... O ponto que me parece mais importante é que, por muito que se discorde das posições da Igreja Católica, por cá já se podem fazer canções destas (e escrever textos irónicos, como o meu post). Não é assim em muitos pontos do globo.


De Margarida a 12 de Maio de 2010 às 08:21
You're bad... , delightfully bad...


De José António Abreu a 12 de Maio de 2010 às 22:06
Uma pessoa tem que se concenrar nos pontos fortes, Margarida...


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