como sobreviver submerso.
A polícia inglesa
arquivou o caso Freeport. Não terá descoberto provas suficientes de corrupção para formular acusações. Muito bem. É provável que em breve as autoridades portuguesas façam o mesmo. Em princípio, nada a apontar. O problema é que, com a justiça portuguesa no estado em que se encontra, arquivamentos já não significam inocência. Apenas
– precisamente – falta de provas (ou provas inadmissíveis). De onde resulta que a suspeição permanece. Sobre os culpados e sobre os inocentes. Os primeiros, embora finjam o contrário, não se importam (safaram-se ainda assim), os segundos não mereciam o estigma. Por cá, «justiça» é um conceito de dicionário.
Uma caldeirada esta nossa justiça. Aquele que deveria ser o primeiro bastião da democracia, desacreditado. A partir desse descrédito, tudo se desmorona num efeito dominó, uma bola de neve. Como muito bem pergunta no ES, como se parará? Ainda nos vamos arrepender, amargamente, como Guerra Junqueiro.
Como refere, Cristina, o funcionamento adequado do sistema judicial é abolutamente crucial para que tudo o resto funcione. Infelizmente, como noutras áreas, os discursos grandiloquentes sobrepôem-se à real vontade de alterar a situação. Se bem me lembro, Cunhal escreveu há muitos anos um livro a que chamou, referindo-se ao PCP, «O partido com paredes de vidro» (título que não deixa de ser anedótico considerando quão fechado é o PCP mas isso é outro assunto). Dá a sensação de que, hoje, quase todos os partidos (e especialmente os que têm força suficiente para mudar a situação) são partidos com telhados de vidro. O que fazer? Acho que já chegámos à fase em que temos de continuar a atirar pedras e depois logo se verá.
De Zé da Burra o Alentejano a 13 de Novembro de 2009 às 15:19
Será que as dezenas de casos de alta corrupção notíciados e dabatidos na "praça pública" (felizmente que ainda há liberdade de imprensa) são todos fantasia ou fruto de manobras tácticas para deitar o Governo abaixo (teoria da conspiração)? Mas na realidade é escasso o número de condenados e no final dos infindáveis recursos que a lei permite e ninguém acabou por cumprir pena de prisão, assim, só restam duas hipóteses: Ou é tudo mentira, somos todos paranoicos, por cá não há mesmo corrupção nenhuma e "vivemos no melhor dos mundos"; ou as nossas leis e os nossos Tribunais são incapazes de julgar e condenar efectivamente os corruptos. A incapacidade de se conseguirem as necessárias provas para as condenações entroncam nos instrumentos que os políticos põem à disposição dos investigadores e dos Tribunais: LEIS QUE FAZEM BLINDAGEM À INVESTIGAÇÃO E A FALTA DE MEIOS PARA INVESTIGAR. Se é esse o motivo então é grave porque levanta a suspeita de não interessar aos políticos no poder por cobro à corrupção.
Precisamente. Em princípio, pessoas inocentes procurariam implementar meios de combate à corrupção minimamente eficazes. Cá, pelo contrário, quando alguém o tenta fazer (pense-se em João Cravinho) é delicadamente empurrado para fora de cena. Serão todos corruptos? Provavelmente não. Mas acabam todos sob suspeita.
De
Margarida a 13 de Novembro de 2009 às 17:49
Os novos dicionários não têm essa parte, tudo o que seja ligado a 'justiça' vai ser omisso.
Omisso, sim, há à fartazana...
Bem visto. O meu dicionário de sinónimos da Porto Editora ainda tem a palavra "justiça" mas os termos que indica são hilariantes. Por exemplo, "imparcialidade", "probidade", "rigor" e "severidade". Quanto a "omissão", tem, entre outros, "ausência", "descuido", "falha", "frouxidão", "inércia", "lapso", "negligência", "supressão". Indubitavelmente conceitos muito mais próximos da realidade da justiça nacional.
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